12 de setembro de 2020 – segunda aula de Seminários Clínicos

Para essa aula o Henrique enviou alguns dias antes dois materiais; o texto “Memória, Recordação E Ficção: a imagem fotográfica na clínica da Análise Psicorporal Reichiana”, escrito por ele e por quem acredito que foi seu orientador no doutorado, Ricardo Silva Kubrusly, e um vídeo chamado “Transcending Heidegger – The Cinema Of Terrence Malick”, um vídeo muito interessante que traz reflexões que interligam os dois autores, mostrando de uma forma muito bonita como o cinema também pode ser uma atividade filosófica – o vídeo está disponível na plataforma YouTube e tem legendas em português, recomendo fortemente que quem se interessar por cinema e/ou filosofia, ou mesmo quiser olhar as coisas de um ponto (talvez) novo, assista ao vídeo. Continue reading

23 de agosto de 2020 – primeira aula de Reich e Conexões Contemporâneas

Eu estava muito desejoso de fazer esse curso; desde o ano passado eu e uma amiga da formação estávamos “cercando” o Marcus Vinícius para oferecê-lo por conta do nosso interesse no trabalho com grupos, mas ele somente oferece curso livres nos semestres que não oferece um curso básico, e quando oferece cursos livres é sempre seguindo o ciclo de 5 “oficinas do corpo”. Quando o abordamos sobre essa possibilidade ele não nos deu firmeza, disse que haviam pessoas aguardando a próxima “oficina do corpo”, que conversaríamos na reunião de formação de turma – como as pessoas, de uma forma geral, demonstram clara predileção por cursos voltados para intervenções corporais, não tínhamos muita esperança de que esse curso fosse acontecer. Mas com a pandemia e as aulas online, ele ofertou o curso (e teve muita adesão), o que me deixou feliz de ter isso na minha formação. Continue reading

22 de agosto de 2020 – primeira aula de Orgonomia

De todos os cursos ofertados no IFP, esse é o único que me desperta um sentimento ambíguo (acompanhado talvez por Orgonoterapia, mas existem algumas questões que atenuam no caso deste): se ele fosse um curso livre ao invés de um curso básico, eu não o faria, e talvez até gostaria de que assim fosse; mas como ele existe, quero poder estudar bem o tema e pegar o máximo de informações e referências que eu puder. Isso porque Orgonomia é o nome da proposta de ciência que Reich criou baseado na sua ideia da existência do orgone (ou orgon, orgônio e derivados), algo que nunca foi satisfatoriamente comprovado frente a comunidade científica, mas que os reichianos acreditam piamente que existe e que a comunidade só não aceita as postulações de Reich porque é fechada àquilo que não lhe interessa. Então fazer um curso dedicado a isso pode tanto ser uma ótima oportunidade de conhecer as referências, experimentos e protocolos feitos dentro da Orgonomia que podem confirmar as suas hipóteses, ou então apenas ser seis meses de papo furado sobre uma pseudo-teoria de pessoas que querem saber de algo que “ninguém mais sabe” – bom, estando aqui, acho que o melhor é aproveitar bem e tentar me manter aberto. Continue reading

22 de agosto de 2020 – primeira aula de Seminários Clínicos

Essa foi a primeira aula online que tivemos na formação que se realizou “inteira” – as aulas de encerramento do semestre anterior, que também foram online, foram divididas em duas partes. Eu estava um tanto apreensivo em relação a isso, pois as atividades que tenho feito online e por telefone até aqui tem sido cansativas, muito mais do que quando feitas presencialmente, então a ideia de um dia preenchido por videoconferências não parecia muito sedutora. Mas o Henrique, professor desse curso, criou um esquema que achei bem interessante de pausas, e penso que isso permitiu que a aula não ficasse cansativa: ele fez tempos decrescentes, primeiro com um momento de 90m e uma pausa de 15m, depois mais uma hora e outra pausa de 15m e um último segmento de 30m. Outra coisa que penso que ajudou nisso foi que nos intervalos eu efetivamente saia da frente do computador, ia para o quintal e ficava olhando para longe (um lindo ipê amarelo que estava florido perto de casa ajudou bastante nisso), além de me esticar um pouco, estar sempre me hidratando e coisas assim. Se o meio muda é importante que as estratégias mudem também; isso vale para tanta coisa e, mesmo assim, ignoramos demais a potência dessa ideia. Continue reading

05 de julho de 2020 – sexta aula de Análise do Caráter III (segunda parte)

O Pedro iniciou essa aula fazendo uma checagem com as alunas sobre a aula anterior, procurando saber se havia ficado alguma dúvida sobre o conceito de Peste Emocional em Reich, se havia aparecido alguma questão nesse intervalo entre uma aula e outra; eu acho que essa é uma boa ferramenta pedagógica, essa ideia de fazer uma checagem no início dos encontros, e como aprendi com um professor da ESPOCC, não só em relação aos conteúdos e ao material mais diretamente ligado às aulas, mas também sobre como as pessoas estão, como chegaram até ali, se acordaram bem, se alguma coisa muita fora do comum aconteceu com alguém e esse tipo de coisa. Uma ferramenta assim se torna muito mais importante em cenários como a escola, aonde não existe uma aclimação para a aula, quando a professora entra em sala já é momento da aula, então é como se não houvesse uma transição; nas aulas presenciais do IFP isso não se processa exatamente dessa forma, ao menos para mim que sempre costumo chegar mais cedo, porque aí sempre tem uma conversa, sempre é dada aquela “tolerância de 10 minutos” que viram 20 fácil, fácil aqui no Rio de Janeiro, e nisso uma transição fica muito simples de acontecer; nos encontros online isso tem acontecido também, sempre rola uma conversinha antes, e assim a gente entra nos temas através de uma coisa ou outra que surgiu nesse bate papo. Claro que isso nem sempre é possível, mas penso que é algo interessante de se ter em mente quando se trabalha com aulas e educação. Continue reading

04 de julho de 2020 – sexta aula de Clínica Psicorporal das Psicoses e dos Transtornos Mentais (segunda parte)

Iniciamos essa aula com o Henrique dizendo que falaria sobre o Transtorno de Estresse Pós Traumático (TEPT), e a primeira questão que ele levantou sobre isso foi o impacto que a situação sócio econômica do indivíduo tem nesse tipo de transtorno; tendo estreita ligação com o conceito de trauma, esse tipo de transtorno tem campo mais fértil para a sua instalação em situações aonde acontecimentos traumáticos sejam mais presentes. Um “tipo ideal” de situação para pensarmos nisso seria a guerra, pois para além de todos os episódios abjetos que populam esse tipo de situação, em uma guerra a vida é coisificada em um nível muito extremo, ligando-se à necessidade do indivíduo de preservação da sua vida – se não encarar o inimigo como algo a ser eliminado, uma pessoa não tem muitas chances de sobreviver em uma guerra. O que eu acho muito interessante de pensarmos nisso e que acabamos por não explorar muito na aula é como mesmo em um cenário desgraçado (e desgraçante) como a guerra a necessidade de construir relações, de expressar afetos e mesmo a empatia ainda encontram espaço para se manifestar. Muito comuns são os relatos de pessoas que participaram de guerras e falam do sentimento de irmandade que existia em seu pelotão, companhia ou agrupamento; mas o que eu acho mais interessante é pensar nos momentos aonde esse “lado humano” se apresenta em relação aos inimigos – um episódio muito significativo nesse sentido é a trégua de natal entre ingleses e alemães na Primeira Guerra Mundial, quando membros de exércitos inimigos ajudaram-se mutuamente a enterrar seus mortos, trocaram memorabílias como botões dos uniformes e distintivos, brindaram juntos e até jogaram o que de certo ângulo pode ser entendida como a mais bela partida de futebol da história (https://www.telegraph.co.uk/sport/football/teams/england/10455611/England-v-Germany-when-rivals-staged-beautiful-game-on-the-Somme.html). Pensar nisso me reforça a ideia do quão efetivo e planejado é o processo de mortificação da vida engendrado e posto em movimento por nossa sociedade, pois se você força as pessoas a serem monstros em um evento tão abominável como a guerra, ainda se tratará de um episódio na vida daquelas pessoas, e por mais que eu não acredite em valores humanos intrínsecos, também não consigo conceber as pessoas como um compilado de perversões esperando uma oportunidade de se manifestar; não somos criaturas perfeitas maculadas pela vilania da sociedade, mas tampouco somos bestas cuja perversidade é freada por nossas leis e normas. Então penso que nisso, assim como em outros aspectos da nossa vida, um certo “efeito mola” se processa, ou seja, se você estressa muito em uma direção, se estica demais para um lado, ou se comprime muito em uma direção, existirá uma força muito grande se acumulando para a direção oposta; a guerra, então, seria um momento aonde muita pressão é exercida nesse sentido da coisificação da vida, o que gera um impulso na direção oposta muito forte. Mas na nossa sociedade atual, por mais que não haja um cenário de guerra como foi a Primeira Guerra Mundial, vivemos vários tempos e espaços de situações tão execráveis quanto, só que diluídas, no tempo e no espaço, de forma que essa pressão em direção às atrocidades não seja exercida de forma contínua, não gerando, assim, esse “efeito mola”. Continue reading

27 de junho de 2020 – sexta aula de Vegetoterapia II (primeira parte)

A Denise iniciou essa aula, que foi por videoconferência, dizendo que pretendia usar apenas uma hora, ao invés dos noventa minutos sinalizados no e-mail que a coordenação nos enviou, para poder dedicar mais tempo à “parte prática”, que pretende construir conosco quando houver possibilidade de nos encontrarmos presencialmente. Isso foi algo que me chamou a atenção, pois como trouxe à tona a questão da matemática dos minutos das aulas me fez pensar o seguinte: na formação, cada curso é constituído de quatro “tempos” de 50 minutos (mais 10 minutos para um intervalo – sempre achei equivocado esse sistema que obriga a pessoa a estar em um lugar mas não lhe remunera esse tempo a título de “intervalo”, ainda mais em um caso assim, aonde está óbvio que a pessoa não vai poder nem sair do ambiente em um intervalo de 10 minutos. Mas essa é uma outra discussão, para um outro espaço), o que totaliza 200 minutos (três horas e vinte minutos) de aula – assim, ao propor duas aulas de 90 minutos (uma hora e meia) por videoconferência a coordenação já está eliminado 20 minutos da última aula dos cursos. Não acho isso algo horrível, tanto que não me chamou a atenção até que a questão do tempo fosse colocada em jogo pela Denise; mas acho que seria minimamente adequado que a questão fosse endereçada, explicar o porque tomamos nossas decisões ajuda no processo de entendê-las e construir opiniões sobre elas. Mas outra coisa se somou a isso para mim: na quinta aula que tivemos, quando a pandemia já havia chegado por aqui mas a quarentena ainda não havia sido decretada oficialmente, a própria Denise relatou que estava tendo problemas com a universidade que sua filha cursava, pois eles iriam substituir as aulas presenciais por aulas online e ela achava que eles deveriam reduzir, então, o preço da mensalidade – no entanto, a pessoa que pensa assim não tocou nesse assunto de redução do valor conosco, mesmo que o exato movimento que ela criticou na universidade da filha tenha acontecido aqui também. Claro, pode ser que ela tenha pontuado isso na reunião que a coordenação fez e tenha sido voto vencido, tendo ficado combinado que as decisões deveriam sempre ser a do coletivo e não do indivíduo; mas, ainda assim, acho uma pontuação interessante, visto que ela sentiu a necessidade de marcar que deixaria de dar meia hora da “parte teórica” da aula para que pudesse dar mais meia hora da “parte prática” – se ela acha coerente que a aula online seja menos cara do que a aula presencial, por que essa necessidade de “cronometrar” o tempo? Se não podia diminuir o valor por conta de uma decisão coletiva, por que então não ignorar um pouco o relógio para compensar isso? Continue reading

27 de junho de 2020 – sexta aula de Análise do Caráter III (primeira parte)

O Pedro iniciou essa aula falando que trabalharia nela o conceito de peste emocional de Reich, que ele desenvolve no último capítulo do livro Análise do Caráter; anunciou também que fez um vídeo e disponibilizou em seu canal do YouTube sobre esse tema (https://www.youtube.com/watch?v=f_t_qDQghgc), que seria recomendável que as pessoas assistissem ao vídeo. Disse também que trabalharia os conceitos de banalidade do mal e totalitatismo de Hannah Arendt, o livro “Escuta, Zé Ninguém” de Reich e que traria algumas questões clínicas relativas a essas questões. Continue reading

26 de junho de 2020 – sexta aula de Clínica Psicorporal das Psicoses e dos Transtornos Mentais (primeira parte)

Com a pandemia de COVID-19, as aulas no IFP foram interrompidas; mesmo as últimas aulas pré quarentena (ou isso que chamamos por aqui de quarentena), em março, foram dadas bem no limite das primeiras ações nesse sentido. Tivemos algumas interfaces de contato ainda existentes entre pessoas do Instituto por conta de quatro coisas que aconteceram: um grupo de estudos do Centro de Atendimento Psicoterapêutico, que se reunia semanalmente para estudar um curso sobre Freud e Nietzsche; as supervisões e intervisões da Escuta Sensível, uma modalidade de atendimento por telefone ou videoconferência que o CAP está oferecendo como cuidado emergencial nessa época de quarentena, então temos nos encontrado periodicamente para comentar e debater os casos; um grupo que se reuniu algumas semanas para debater uma atividade proposta pela Denise Dessaune, professora de Vegetoterapia II, que deveria ser feita em grupo; encontros/aulas que o Henrique, professor desse curso (Clínica Psicorporal das Psicoses e dos Transtornos Mentais), puxou, que ele insistiu que não fossem considerados aulas do curso mas que eu entendi como algo bem próximo disso. Assim, não houve um completo desligamento das pessoas da formação durante esse período de quarentena; pelo contrário, essa confusão toda que estamos vivendo até proporcionou o surgimento de uma coisa muito interessante, a Escuta Sensível do CAP, que inclusive foi como eu atendi como psicoterapeuta pela primeira vez. Continue reading

14 de março de 2020 – quinta aula de Análise do Caráter III

Seguindo esquema geral desse curso, nessa aula trabalhamos mais um capítulo do livro Análise do Caráter, dessa vez o mais extenso da terceira parte, o capítulo XV A Cisão Esquizofrênica. O Pedro iniciou então a aula fazendo uma definição da psicose (a esquizofrenia seria uma forma de psicose), e foi buscar a origem etimológica da palavra no grego: psyché seria algo como “sopro de vida” e a terminação ose designa doença – assim, a psicose seria “a doença do sopro de vida”. Dando uma definição mais estrita (e, segundo ele, mais “grosseira”), o Pedro caracterizou a psicose como “qualquer doença mental caracterizada pela distorção da percepção do real pelo indivíduo”; seguindo a isso, ele lê em suas anotações que “Freud, em 1924, escreve um texto chamado ‘A Perda da Realidade na Neurose e na Psicose’ (…) [citando Freud] ‘uma das características que diferenciam uma neurose de uma psicose é o fato de que em uma neurose do Eu, em sua dependência da realidade, suprime um fragmento do Isso, ou seja da vida instintual. Ao passo que em uma psicose esse mesmo Eu, a serviço do Isso, se afasta de um fragmento da realidade. Assim, para a neurose, o fator decisivo seria a predominância da influência da realidade, enquanto para a psicose esse fator seria a predominância do Isso. Então o que vamos ter é que na psicose nos vamos ter um transbordamento desse núcleo instintual, pulsional – para ser mais preciso”. O termo “esquizofrenia” é criado por Eugene Bleuler, e significa “mente dividida”, anteriormente chamada de demência precoce; enquanto Freud a chamava de parafrenia. Continue reading