23 de agosto de 2020 – primeira aula de Reich e Conexões Contemporâneas

Eu estava muito desejoso de fazer esse curso; desde o ano passado eu e uma amiga da formação estávamos “cercando” o Marcus Vinícius para oferecê-lo por conta do nosso interesse no trabalho com grupos, mas ele somente oferece curso livres nos semestres que não oferece um curso básico, e quando oferece cursos livres é sempre seguindo o ciclo de 5 “oficinas do corpo”. Quando o abordamos sobre essa possibilidade ele não nos deu firmeza, disse que haviam pessoas aguardando a próxima “oficina do corpo”, que conversaríamos na reunião de formação de turma – como as pessoas, de uma forma geral, demonstram clara predileção por cursos voltados para intervenções corporais, não tínhamos muita esperança de que esse curso fosse acontecer. Mas com a pandemia e as aulas online, ele ofertou o curso (e teve muita adesão), o que me deixou feliz de ter isso na minha formação.

O curso vai se basear no livro “Reich, Grupos e Sociedade” do próprio Marcus Vinícius; para essa aula, ele pediu a leitura da Apresentação, da Introdução e do Capítulo 1 “Continuidade e Descontinuidade do Ser”. Nesse primeiro capítulo e, por conseguinte, nessa primeira aula, ele explora como três autores influenciam a obra reichiana: Marx, Espinoza e Bergson. No início da aula ele faz uma pequena explicação sobre a sua posição dentro do campo reichiano e da existência de neo e pós reichianos (Lower, Baker, Navarro…). Pode-se achar essa parte do livro (e mais algumas páginas) disponíveis para leitura no “Google Books”.

Falando da apresentação do seu livro, escrita pela professora do Departamento de Psicologia Social e Institucional da UERJ Heliana Conde, o Marcus Vinícius já traz uma informação muito interessante quando diz “essa escola, chamada Análise Institucional, para quem quer trabalhar com grupos acho que hoje é incontornável”. Ele diz que tanto para os analistas institucionais quanto para os reichianos as pessoas não são movidas pela falta, mas sim pela potência, pela pulsão de vida; se somos movidos pela vida, o movimento em direção à morte é sempre advindo de alguma questão secundária (pois para Reich não há pulsão de morte). Outra questão muito interessante que ele ressalta a partir da apresentação do seu livro é que a realidade não é divisível em áreas do conhecimento (ou em quaisquer outras categorias), nós apenas fazemos essa divisão para que consigamos dar conta de compreender melhor a realidade, que essa divisão não se processa na realidade, mas apenas na nossa cognição; assim, não é possível dividir claramente aonde termina a área de competência da Psicologia e inicia a da Filosofia, aonde termina a Filosofia e inicia a Sociologia etc. Para citar uma frase dele na aula sobre isso, “as áreas são somente modos ou prismas de observar um determinado fenômeno, por assim dizer, mas que na verdade isso é tudo muito junto, né, a gente separa em estanques mas na verdade, né… é o índio, subindo na árvore, caçando, não está… quando você olha ali você não vê a Antropologia, não vê a Sociologia, não vê a Psicologia, né, a gente é que faz isso, então a gente tem que, o olhar trans nos diz o que, transdisciplinar – o nome já diz, transdisciplinar – a gente vai ultrapassando fronteiras, né, o tempo todo, então… existe uma frase do Nietzsche que eu gosto bastante, que depois a gente vai retomar também mas já aproveitando isso, o Nietzsche diz assim que é… um texto científico é mais rico, um texto científico é mais rico, quanto mais essa ciência, que ele chama de Gaia Ciência, de ciência de peso e tal, puder se associar à Literatura, à Poesia, à Arte, então assim por isso que o Nietzsche escreve daquele jeito, quase como se fossem máximas, né, e por isso que ele faz tantas referências à Literatura, ele filósofo, à pintura, às artes de um modo geral… Então, voltando à questão clínica, eu acho que esses são dispositivos e que a gente não pode abrir mão sob o ponto de vista da gente ter uma clínica muito pobre. Então assim, é bom a gente utilizar mesmo esses dispositivos todos, né, por que não poesia? Por que não um texto literário? Por que não música?”. Se as pessoas fossem se debruçar com seriedade e profundidade sobre as aulas, só isso bastaria, de tanta coisa que há a ser retirada disso. Mais para frente, ainda, o Marcus Vinícius fala também da inseparabilidade da clínica com o social, com a política, e que isso tem que ser levado em consideração; nessa toada, falou de um livro que me interessou muito conhecer, mas que não consegui encontrar uma versão digital procurando rapidamente, de título “Questionamos: a psicanálise e suas instituições”. Segundo ele, é um livro produzido por psicanalistas que buscam problematizar questões que veem como necessárias se debruçar na Psicanálise, e traz como exemplo (talvez) disparador do livro a situação de ditadura na Argentina (parece que o livro é produzido por psicanalistas argentinos) e a insistência de alguns psicanalistas em ignorar esse contexto; um exemplo que ele traz seria um indivíduo que está convivendo com a brutalidade dessa ditadura, que tortura pessoas, o indivíduo vê seus vizinhos desaparecendo, é hostilizado pelas forças policiais e, ainda assim, no consultório o psicanalista vai lhe dizer “vejo que você tem algum conflito com a autoridade paterna”. É interessante demais pensar que esse exemplo não deveria ser considerado apenas em cenários exacerbados como uma ditadura militar, mas compreender que cada setor da sociedade também vai estar exposto a conflitos profundos e que cada indivíduo também terá as suas questões que devem ser consideradas, e não vir com um modelo e tentar encaixar no indivíduo de qualquer maneira. Viver em um cenário de guerra como são algumas favelas cariocas, por exemplo, certamente vai expor as pessoas a violências tão ou mais vis do que um cidadão de classe média durante uma ditadura militar – se temos que levar um contexto em consideração, certamente temos que levar o outro também. Pessoas negras em uma sociedade racista, pessoas não-heterossexuais em uma sociedade heteronormativa, pessoas libertárias em uma sociedade autoritária… todos esses exemplos, e tantos outros possíveis, sinalizam conflitos profundos e que não deveriam ser ignorados na clínica em nome de uma tentativa de localizar a couraça X ou o desejo de matar o pai para casar com a mãe.

Continuando o desenvolvimento da aula, o Marcus Vinícius trouxe uma frase que eu acho importante registrar: “Então, assim, a clínica mesmo nos consultórios privados ela tem que ser…, a gente tem que ter esse olhar, né, de criar uma condição transgressora de autonomia. Não existe uma autonomia completa, uma autonomia sempre relativa, porque a gente sempre depende uns dos outros. Mas tem um nível de autonomia, de autoregulação, de você dar conta de algumas coisas, que é um nível basal, é importante da gente atingir – e que por vezes é caçado, é aprisionado pelo Estado ou pelo poder econômico, e a gente tem que estar olhando com muita clareza sobre isso”. Acho que isso se liga com o que Reich fala sobre a clínica individual não ser o objetivo do seu trabalho, mas que esse trabalho é importante pois é nele que se poderá investigar os mecanismos da neurose, e a partir desse conhecimento será possível estruturar uma profilaxia das neuroses. E depois de fazer outras considerações, ele adiciona outra coisa que acho que se liga fortemente a essa: “então a gente como clínico também tem que estar atentos se a gente não está enviesando para atender determinados interesses, então a gente tem que estar sempre atento a isso”. Aqui eu acho que é fundamental o estudo sobre a formação das subjetividades e uma postura crítica ao capitalismo e aos problemas que dele advém para poder apreciar todo o impacto que essa frase possui; um exemplo que eu sempre trago, que é a razão de ser do Projeto G.A.M.E., é sobre os valores praticados no campo das psicoterapias. Não basta pensar nisso como uma questão matemática, de quantas pessoas são excluídas pelos valores cobrados, mas de compreender que cobrar valores mensais que excedem o salário-mínimo, valor com o qual muitas famílias vivem (e tantas outras com menos do que isso), é manter uma estrutura criadora de desigualdades, é continuar a atestar que certos serviços/bens só podem ser acessados por um grupo de pessoas e que os outros não devem ter acesso a eles; e olhar para isso conciliando a realidade objetiva e material, mas também a realidade subjetiva, do que isso produz nas pessoas, na sua forma de ver o mundo.

Logo depois do intervalo eu tive um problema com a conexão de internet e perdi uma parte da aula tentando entrar na sala de videoconferência através de ligação telefônica. Quando consegui voltar, o Marcus Vinícius estava falando sobre a especialização do saber e da não capacidade de conhecermos o elemento fundamental da existência (pensando no átomo, partículas subatômicas etc.) nem de compreendermos o todo aonde estamos incluídos (grupos, sociedades, países, planeta, sistema solar, galáxia…). E logo após eu conseguir uma conexão razoavelmente estável através do telefone ele iniciou a falar sobre Marx, trazendo uma sucinta origem biográfica do autor e da sua questão com o capitalismo de sua época, de condições absolutamente degradantes. Disso entrou em uma exploração sobre as repressões que o capitalismo põem em jogo, salientando que o capitalismo não é o único sistema repressor possível, passou pelo conceito marxiano de mais-valia em sua origem e consequências sociais. E nisso outro problema aconteceu, o cartão de memória que eu estava usando pra gravar a aula lotou, então eu corri para pegar outro, e nisso perdi mais alguns minutos de aula. Quando voltei ele ainda estava em Marx, explicando o conceito de dialética, tese-antítese-síntese. Depois disso falou sobre a ideia da ditadura do proletariado e da revolução bolchevique na Rússia, e sobre o relato de Reich sobre o regime comunista sob a égide de Lênin (igualdade de salários entre homens e mulheres, direito ao aborto, educação infantil de qualidade) e sua dissolução em um regime capitalista de estado durante o período stalinista. Abrindo para perguntas e considerações sobre o Marx, não pude deixar de citar o livro “Autogestão: uma mudança radical”, no qual os autores vão dizer que o leninismo já é uma deturpação do marxismo, pois ao inserir a ideia de um partido que liderará os proletários no processo revolucionário já se contradiz a ideia marxiana de que são os próprios proletários que produzirão a sua emancipação.

Falando sobre Espinoza, o Marcus Vinícius reforça que Reich nunca citou diretamente Espinoza, mas que é possível encontrar aproximações entre a concepção de homem e de vida entre os dois autores. Por exemplo, na ideia de que há uma substância que uniria todas as coisas; segundo Espinoza não há uma relação determinista entre espírito e corpo, espírito e corpo são uma unidade, há um paralelismo ressonante, assim como Reich fala de uma unidade funcional entre corpo e mente. Espinoza vai propor que consideremos o bom e mau ao invés do bem e mal, porque o bom e o mau seriam intensidades; o bom encontro compõe e potencializa os elementos que se encontram, enquanto o mau encontro despotencializa e decompõe os elementos.

Ao falar sobre Bergson e suas interfaces com Reich, o Marcus Vinícius aponta que esse autor fala de um “eu profundo, que a gente deveria sair do eu mais superficial e ir pro eu profundo”, fala de um mudança constante, de um fluxo e movimento constante, há um paralelismo psicofísico, mas diferente de como pode ser lido em Espinoza, para Bergson isso não é uma necessidade, há descompassos e assincronicidade; Bergson coloca em cena o conceito de intuição, dizendo que é preciso aliar a inteligência e a intuição, compreendendo essa como uma apreensão inconsciente da realidade (e aqui é possível uma ponte com o que foi discutido na primeira aula de Seminários Clínicos, mostrando o que eu já havia explorado por lá, de que a intuição não precisa ser compreendida como um fenômeno místico e/ou extrasensorial). Para Bergson, a vida segue um “movimento arborescente”, do mais simples para o mais complexo, sendo os seres impelidos a isso por uma força de vida que ele chamou de elã vital. E, por fim, o conceito que mais aproximaria explicitamente os dois autores: “o conceito, que é um conceito muito caro ao Bergson, que é o conceito de carapaça, que os bichos se protegem com a ameaça dos outros bichos seus inimigos e aí eles criam essa carapaça, como eu dizia anteriormente. E aí a relação com a couraça é visível, clara, notória… que a couraça é isso, é uma defesa que a gente tem em relação ao outro; é claro que existe a couraça saudável. Couraça saudável é aquela que é flexível, é aquela que se amolda à circunstância, e existe a couraça patológica, que é aquela couraça fixa, aquela que nos deixa sempre de um certo modo, de um certo jeito quando a gente se relaciona, mesmo quando não há ameaça externa – essa é uma carapaça rígida, uma couraça rígida, não é a couraça flexível que nos protege, essa outra aprisiona, não nos defende só, nos defende mas nos aprisiona. Então a gente tem que ir transformando na clínica a couraça patológica em couraça saudável”.

No final da aula, abrindo para perguntas e considerações das pessoas, a primeira a falar trouxe, entre outras coisas, a seguinte frase: “quando eu comecei a estudar Reich tinha muito a história do misticismo, tudo que eu não posso comprovar cientificamente vira místico e aí é totalmente refutável” – trouxe isso em um tom de crítica, como que dizendo “isso é errado”. Eu sinto que eu não deveria, mas ainda me surpreendo que falas como essa surjam não só dentro dessa formação, mas dentro de qualquer espaço que se considere razoável e relacionado com o conhecimento. Primeiro, embora eu sempre discorde de que devemos procurar a explicação das coisas na origem etimológica das palavras, também acredito que a etimologia tem uma contribuição a fazer nos debates quando os termos não são indisputados; a palavra “místico” usada como adjetivo vem justamente qualificar “aquilo no qual há mistério”, e a ciência é justamente um método para que consigamos explicar as coisas, ou seja, tirar-lhes o mistério – assim, opor ciência e misticismo não é só uma questão de coerência, mas de precisão conceitual. Segundo, não se trata de entender ou de afirmar que somente o método científico pode produzir conhecimentos verdadeiros, mas do inverso, de que qualquer conhecimento que seja verdadeiro (independente da forma como se obteve esse conhecimento) pode ser provado verdadeiro através do método científico – não é somente a ciência que produz “verdades”, mas qualquer “verdade” pode ser provada através da ciência. Terceiro, interessa à ciência somente fenômenos reprodutíveis; isso não significa dizer que não existem fenômenos irreprodutíveis (também não significa dizer que hão – sim, a postura agnóstica faz sentido para além da religião), apenas que, se existirem, eles não interessam à ciência. Pode ser que em uma experiência única e irreprodutível uma pessoa tenha conseguido transmitir seus pensamentos a uma outra; mas se essa é uma experiência impossível de se reproduzir, qual interesse poderia haver em estudá-la? Esse é um exemplo sobre o qual poderíamos passar horas, dias, semanas, quiça meses ou anos discutindo, mas acho que para os fins desse relato apenas apresentá-lo dessa forma basta. Algumas pessoas poderiam relutar frente a essas ideias, dizendo que isso é uma visão positivista da ciência e que nela seria impossível entender as ciências humanas e sociais enquanto ciências; eu discordo absolutamente dessa afirmação. Eu entendo ciência dessa forma e entendo a História (talvez, ainda tenho que pensar nisso, deva acrescentar “ou mais precisamente a Historiografia”) como uma ciência; os mais apressados poderão perguntar “mas é impossível reproduzir a Revolução Francesa; então como estudá-la cientificamente?”, e creio que a resposta se apresenta naturalmente se corrigirmos um equívoco que passa desapercebido no dia-a-dia mas que é importante desfazer quando necessitamos de precisão conceitual, como é o caso aqui. Um historiador não estuda, ipsis litteris, a Revolução Francesa (pegando esse episódio histórico como referência, mas poderia ser qualquer outro), mas sim aquilo que a humanidade produziu sobre e a partir desse acontecimento: memórias, relatos, evidências, documentos, pinturas, interpretações, poemas etc. Então se o historiador A escreve um livro dizendo que o rei Luís XVI foi executado em 1793, podemos perguntar-lhe “Como você pode afirmar isso?”, e ele, se fez um bom trabalho como historiador, nos apresentará as fontes de onde retirou tais informações, que em nosso exemplo vamos chamar de documentos X, Y e Z; assim, o conhecimento que ele produziu não foi especificamente sobre a execução de Luís XVI, mas sobre os documentos X, Y e Z – e a produção desse conhecimento é completamente reproduzível, pois qualquer pessoa que acesse os mesmos documentos poderá chegar às mesmas conclusões que o historiador A, se “percorrer o mesmo caminho” que ele. E nesse exemplo já se evidencia outra característica fundamental do conhecimento científico que também está presente na construção do conhecimento em História, a falseabilidade – uma hipótese, asserção, ideia ou teoria precisa ser possível de ser demonstrada falsa para ser considerada científica (estou aqui, como já explicitei em outros relatos, utilizando o paradigma hipotético-dedutivo). “Todos os cisnes são brancos” é uma afirmação falseável, porque basta encontrar um cisne não-branco para provar essa hipótese falsa; não importa que nunca se encontre um cisne não-branco, não se trata da hipótese ser falsa, mas dela permitir provar ser falsa. E essa característica, a falseabilidade, também está presente na construção do conhecimento histórico: se o historiador B encontrar novas fontes que permitam questionar a hipótese do historiador A de que o rei Luís XVI foi executado em 1793, isso pode (e deve) ser feito, sempre com método, exposição da questão, apresentação das fontes de forma que permita outras pessoas a reproduzirem o caminho das suas conclusões, e submetendo sua hipótese à revisão de seus pares. Então, até aqui, acredito que mostrei porque ciência e misticismo são coisas opostas (e, devo reforçar, me incomoda ter que falar disso, por mais superficialmente que seja) e porque não deveria haver resistência em se fornecer provas sobre algo que se está afirmando; sei que vivemos em uma sociedade que aceita, normaliza e institucionaliza crenças, mas acho que já passou do tempo de nos envergonharmos disso. Conseguimos achar, com facilidade, espaços em nossa sociedade aonde o método científico não adentra (como igrejas, grupos de astrologia e congressos sobre a teoria da terra plana), mas não encontramos espaços livres da fé e suas consequências desastrosas; mas essa é outra longa discussão.

Depois dessa última fala a que me referi e ao Marcus Vinícius fazer alguns comentários em cima dela, outra pessoa também trouxe uma questão que se relaciona com a epistemologia; em resumo, a pergunta da pessoa foi por que o Reich não trouxe a referência do Espinoza e da “substância” para falar do Orgone. A resposta do Marcus Vinícius a isso traz mais um ponto que eu gostaria de explorar brevemente: “… e aí eu acho que essa crítica… mas é uma crítica epistemológica, entendeu? Você vai ter cientistas que vão dizer ‘não, tem que pesquisar, ele está certo, ele estava certo, senão vai virar só filosofia, tem que ir lá, demonstrar que existe essa energia então’, tem que fazer lá o experimento do duplo-cego, né, bota as pessoas dentro da caixa de orgônio e uma falsa e uma verdadeira, vamos ver se matematicamente, estatisticamente, né, que a gente chama de experimento do duplo-cego, se tem influência, isso que é importante de publicar, senão isso não vai ter valor, vai ser só filosofia. E você vai ter gente dizendo ‘não, isso é ciência clássica, a gente não está interessado nisso, o conhecimento vai muito para além da ciência clássica, isso é uma armadilha, a gente não tem que ir pra esse modelo, não tem, o Reich não tem (como você disse) o Reich não tem que ficar demonstrando coisas, é um equívoco tentar demonstrar isso, vamos entender isso sob o ponto de vista mais amplo do que a física clássica, ou a ciência clássica, tradicional’”. Quando ele fala em teste duplo-cego, eu acho que é importante compreender não apenas do que se trata (visto que isso é simples: um método de ensaio clínico aonde nem o objeto de estudo nem o pesquisador conhecem as variáveis usadas como controle no experimento), mas de conhecer a história das causas, motivos, razões e circunstâncias da adoção do duplo-cego como metodologia de pesquisa – além de não possuir um conhecimento aprofundado nessa área, também acredito que esse relato já está por demais extenso, então apenas apontar que existem bons motivos na história dos testes clínicos que foram levando à adoção dos testes duplos-cegos é suficiente para servir de convite a quem se interessar por pesquisar mais.

Depois disso eu fiz uma fala tentando justamente abordar essa questão do método científico e da produção do conhecimento, o Marcus Vinícius fez algumas considerações, eu repliquei, ele treplicou e bons pontos foram levantados, mas tanto durante a aula quanto aqui nesse relato a extensão e o passar do tempo tornou proibitiva uma exploração mais detida e mais qualitosa.