11 de Novembro de 2018 – primeira aula de Oficina do Corpo IV

No dia seguinte aos cursos básicos foi a primeira aula do curso livre “Oficina do Corpo IV”. São cinco oficinas do corpo, que seguem aproximadamente a divisão em sete segmentos corporais feita por Reich: I – Ocular; II – Oral e Cervical; III – Torácico; IV – Diafragmático e Abdominal; V – Pélvico. Como o professor não oferece o curso livre ao mesmo tempo em que oferece o básico, teremos essa Oficina do Corpo IV agora, no segundo semestre não (por conta do curso Análise do Caráter II), no terceiro semestre Oficina do Corpo V, no quarto semestre Oficina do Corpo I e não teremos Oficina do Corpo no quinto semestre (por conta do curso Seminários Clínicos). Embora a ideia de fazer todas as Oficinas do Corpo seja muito interessante, pois é um curso que lida diretamente com o fazer clínico, penso que pode ser mais interessante buscar fazer um curso livre oferecido por cada uma das coordenadoras (cinco coordenadoras, cinco semestres, cinco cursos) – é algo que vou ir desenvolvendo melhor com o avançar da formação.

A aula começou bem, antes mesmo de entrarmos no salão um aluno trouxe, usando suas próprias palavras, “perguntas de prefácio”, e sentadas ali no corredor tirando os sapatos já iniciamos a exploração de alguns pontos; lembro dele trazer uma questão que relacionava a ideia de estarmos “entrando” na Oficina do Corpo IV e Reich apresentar a necessidade de uma ordem de análise. Todas as questões iam sendo respondidas pelo professor com a simpatia costumeira, mas em um momento ele pediu que continuássemos a conversa na aula, pois havia uma “aluna nova” e ele gostaria de fazer uma entrevista com ela antes; como chegou uma outra pessoa “nova”, ele também fez a entrevista com ela antes de iniciarmos a aula. Quando começamos, ele pediu que sentássemos em roda e fizemos uma breve apresentação de cada pessoa, para depois iniciar uma apresentação de pontos teóricos que iriam permear a oficina – deixou claro que isso aconteceria apenas nesse encontro por ser a primeira aula, que nos próximos a teoria irá ser apresentada dentro das práticas desenvolvidas. Aqui acho pertinente, então, reproduzir as coisas que fui anotando:

– “O corpo reichiano é um corpo emocional”
– Segmento Diafragmático
– Diafragma e “boca do estômago”
– Se superpõe ao segmento abdominal (não há um limite claro e definido, existem zonas de intersecção)
– Para Reich o corpo não é fragmentado – se o é, existe alguma estase (acúmulo de energia)
– A principal preocupação de Reich é com a musculatura
– O diafragma divide o corpo em superior e inferior
– “Respiração é uma ponte [entre esses dois segmentos do corpo], mas o metabolismo também”
– “Dois processos: respiração e metabolismo”
– 2 movimentos da energia: pulsação e corrente
– relação centro-periferia (contração e expansão)
– “uma das características da estrutura histérica é que ‘não cabe’, não tem contenção” – um exemplo de encouraçamento na expansão
– Contato: percepção de si, do outro, das suas correntes e do campo
– Maior ensaio sobre contato em Análise do Caráter, onde fala sobre “contato substituto”
– Respiração como processo fundamental. Processo involuntário porém passível de intervenção
– Como digerimos ou não as nossas emoções e o que isso gera

Esse momento de explicação da teoria foi recortado por muitas perguntas, tendo o professor o cuidado de endereçar todas e ir aprofundando e avançando apenas quando as questões trazidas eram respondidas. Disso fomos para um pequeno intervalo, onde as pessoas fizeram café (o café é uma constante e forte presença lá) e conversamos. Ao voltarmos já haviam 4 colchonetes espalhados pela sala e o professor pediu que formássemos duplas, tendo como único critério que não formássemos duplas com quem já conhecemos. O professor explicou que nas duplas nós faríamos os papéis de paciente e terapeuta, e que ele iria dando instruções ao terapeuta, então mesmo que o paciente estivesse ouvindo era para tentar não ser influenciado por isso e apenas prestar atenção nas indicações que o seu terapeuta estivesse lhe dando. Como primeira indicação ele mostrou que a posição ideal para o terapeuta é em diagonal ao paciente, de forma que possa ser mantido um contato visual mas que também as reações em todo o corpo possam ser observadas. Disso, pediu que as pessoas que fariam os pacientes se deitassem e que quem faria o papel de terapeuta se posicionasse; por pergunta de alguém que não consegui ver quem foi, também indicou que os pacientes tirassem a camisa.

O professor ia dando as instruções caminhando pela sala, e deixava passar um tempo até dar a próxima; até onde me lembro, a ordem das instruções dele foi: pedir que a pessoa respirasse normalmente, como faz no dia a dia, sem nenhuma preocupação especial; pedir que a respiração fosse feita de forma que o peito e o abdômen “enchessem” no mesmo ritmo; pedir que a pessoa se preocupasse em produzir uma dilatação lateral, das costelas, enquanto respirava; pedir que a respiração se fizesse exclusivamente pelo nariz, sem utilizar a boca; pedir que a expiração fosse mais curta do que a inspiração; pedir que a respiração fosse feita em quatro etapas: inspiração, uma pequena pausa, expiração, uma pausa até que a necessidade de inspirar surgisse novamente.

Fizemos duas vezes o exercício, para que as duplas pudessem revezar os seus papéis, e após isso foi formada uma roda para a troca de impressões. Foi muito interessante poder ouvir os relatos das outras duplas e perceber que houveram muitas formas diferentes de fazer o mesmo exercício – claro, em última análise podemos dizer que havia apenas uma forma correta de fazer o exercício (Reich mesmo diz no Análise do Caráter que em alguns casos há apenas uma forma ótima de fazer a análise e que a questão é descobrir qual é essa forma), e realmente alguns relatos me passaram a impressão de que foi feita uma coisa outra e não as instruções que foram passadas pelo professor. A conversa em grupo também possibilitou reflexões para além do exercício, enriquecendo a experiência desse, e anotei mais quatro coisas:

– Reich vai falar do orgasmo enquanto uma entrega completa
– A respiração em quatro etapas vem da observação da respiração em bebês
– Para Freud a contratransferência era algo ruim e a ser evitado. Para Reich a contratransferência é o que o terapeuta sente a partir a relação com o paciente
– “Primeiro você entende o ‘como’ do paciente, depois o ‘porque’”

Uma última coisa a destacar aqui, extremamente interessante, é em relação à afirmação de que a “respiração em quatro etapas” proposta por Reich vem da observação da respiração de bebês. Antes de qualquer coisa, isso já traz um essencialismo que sempre me incomoda; não que eu esteja rejeitando a ideia, nem tenho bases para isso no momento, mas realmente tudo que tem esse “cheiro” de essencialismo me incomoda. O interessante foi que nesse momento um aluno trouxe a informação de que a técnica de respiração que ele é “adepto” (não sei qual seria o termo, mas é algo que ele pratica), chamada “renascimento”, também afirma que o seu método foi extraído da observação de bebês e, para elas, a respiração deve ser fluída, sem nenhuma pausa. Certamente é algo notável e que é importante ter em mente, buscar estudar mais e até ver se existem pesquisas feitas nesse sentido.