30 de março de 2019 – quinta aula de Introdução ao Pensamento Reichiano

Nessa aula continuamos a entrar no período da vida e obra reichiana ligadas à orgonomia, ou seja, o seu estudo da energia orgone.

O professor reforçou o que, para Reich, era a fórmula da vida: tensão → carga → descarga → relaxamento – esses movimentos se expressariam em uma pulsação, que Reich observou em todos os elementos vivos, desde organismos unicelulares até organismos mais complexos como os seres humanos. Fazendo seus estudos em Oslo, Reich desenvolve a ideia de que a carga elétrica encontrada no corpo humano é um efeito do fluxo de orgon que existe nesse mesmo corpo – ou seja, a bioeletricidade seria um efeito da bioenergia.

A partir desses estudos na Universidade de Oslo que Reich desenvolve o seu conceito de correntes vegetativas, que seriam mudanças vegetativas acompanhadas de um fluxo energético. Um exemplo seria a dilatação da pupila, que pode ocorrer por uma questão da luminosidade do ambiente ou por medo; no primeiro caso, não há uma mobilização de energia para a dilatação da pupila, o movimento acontece por uma necessidade do organismo de captar mais luz, enquanto que no medo a dilatação da pupila acontece pois há mobilização de energia independente de existir ou não uma variação da luminosidade do ambiente. Essa energia carrega em si uma qualidade, que pode ser de expansão ou de contração, o que já determina um tipo de afetividade; a expansão estaria ligada a prazer, alegria, amor, e a contração estaria ligada a medo, angústia, ansiedade. Existe também uma terceira emoção básica, que Reich chamava de raiva mas o professor afirmou preferir chamar de agressividade, que inicialmente estaria ligada a uma das duas qualidades da energia (você poderia ter uma agressividade na expansão no caso de uma frustração, por exemplo, onde aquele sentimento que foi reprimido/negado volta com mais força para eliminar aquela barreira, ou também poderia, em outro exemplo, ter a agressividade na contração quando essa se liga ao medo na dualidade luta/fuga).

Na tentativa de confirmar a sua hipótese sobre a fórmula da vida, Reich volta a estudar como se fazer culturas de seres unicelulares; desses estudos surgem os seus experimentos com o feno, que ele deixava de molho de 10 a 14 dias e, nesse processo, surgiam protozoários. A explicação que existia à época para esse fenômeno era a existência de esporos na matéria orgânica que, em meio nutritivo adequado, se desenvolveriam em protozoários – não era a conjugação água+feno que produzia os protozoários. Reich quis observar os efeitos do contato da água com o tecido do feno, fazendo a observação no microscópio, hidratando a cada duas horas o material (para repor a água perdida por evaporação) e fazendo fotografias sequenciais. Essa observação permitiu a Reich ver a desintegração gradual das células do feno, que levava à formação de vesículas que se libertavam do material do feno e flutuavam livres pelo líquido, fazendo movimentos, e possuíam a tendência a se aglutinar. As vesículas faziam alguns tipos movimentos : giravam em torno de se próprio eixo, se aproximando ou se afastando das demais; rotacionavam, fazendo o feno se movimentar; de confluência, onde células individuais se fundiam em uma nova vesícula individual; de pulsação, que necessitavam de uma ampliação da magnificação do microscópio além da zona de foco, mas permitiam observar contração e expansão (e isso era a informação de que essas vesículas eram vivas, pois tinha movimento autoproduzido). Por conta dessas observações Reich denominou essas vesículas de Bions, remetendo a partículas da vida.

Continuando seus experimentos Reich começa a fazer modificações nesse cenário inicial, alterando a água ao adicionar nutrientes, substituindo o feno por terra, esterilizando por calor as substâncias; Reich tirou algumas conclusões novas desses experimentos como, por exemplo, em culturas que se apresentassem neutras eletricamente não havia reprodução dos Bions; ao colocar nessas culturas corantes que só reagiam na presença de elementos biológicos eles reagiam; os Bions possuíam formas diferentes e desempenhavam funções diferentes.

Já nos Estados Unidos e a partir desses seus estudos com Bions, Reich vai continuando seus experimentos (especialmente interessado no que denominou Bions Sapa, que eram obtidos em culturas feitas a partir de areia aquecida e que, segundo Reich, emitiam algum tipo de radiação); intuindo e confirmando em seus experimentos que essa energia era acumulada em/por material orgânico e repelida por metal, Reich desenvolve o princípio que vai fundamentar os seus acumuladores de orgone, caixas de madeira que acumulam em seu interior camadas alternadas de metal e material orgânico (geralmente algodão). Os primeiros experimentos são feitos em caixas pequenas, usando culturas de bions e medidores, mas só em 1940 é feito o primeiro acumulador que cabia uma pessoa, e os primeiros experimentos e observações com pessoas são feitos em relação à temperatura do corpo, geralmente relatando um aumento da mesma após algum tempo dentro do acumulador.

No final da aula, fizemos um exercício que, segundo o professor, trabalha a sensação do fluxo de energia: ele pediu para sentarmos em roda e iniciou alguns movimentos com as mãos que todas deveríamos fazer, que tinha que ver principalmente com esfregar as mãos, daí tentar aproximá-las e afastá-las, ora uma das outras, hora do rosto e isso foi como um aquecimento para o momento seguinte, onde ele pediu que ficássemos com as mãos próximas, “apontando” as palmas, das pessoas ao nosso lado e buscar sentir a energia que estaria sendo trocada ali, depois pedindo para que imaginássemos a energia circulando o grupo em sentido horário (segundo ele, o sentido tanto faz ser horário ou anti-horário, o importante é que o grupo esteja alinhado nesse pensamento do sentido), depois de um tempo ele pediu que buscássemos sincronizar as nossas respirações. Ao final desse exercício ele pediu que compartilhássemos impressões, e muitas pessoas falaram de sentir essa circulação de energia e coisas nesse sentido; eu não tive esse tipo de experiência, e relatei que senti um calor na minha mãe esquerda e muito peso na mão direita; mas não vejo necessidade de postular a existência e circulação de energia para explicar essas coisas. Tenho tentado me manter aberto a essas questões que esse campo reichiano vai sempre trazer de energia, mas ainda não tive experiências (lembrando que casos anedóticos não são prova de nada) ou explicações que pudessem me convencer ou apresentar provas sobre a existência dessa energia.

Nessa aula também o professor trouxe muitas afirmações que me incomodavam em suas conclusões; não tive o trabalho de anotá-las, mas foram coisas como “vocês podem reparar que as pessoas mais certinhas são as que recebem pomba-gira” (querendo afirmar com isso que os processos de incorporação de religiões como a umbanda e o candomblé se ligam a liberações de partes da psique reprimidas), “a física quântica tem explicado coisas que já se afirmava há muito tempo” (colocando conotações místicas na física quântica como, infelizmente, tem se tornado cada vez mais comum – o mundo precisa urgentemente de um curso “Física Quântica Básica – ela ainda é física, galera”), “eu acredito na possibilidade de alguém que dedique a sua vida toda a isso conseguir materializar uma flor do nada em sua mão, pois somos acumuladores de orgon e matéria é energia concentrada – existem inclusive relatos desse tipo de coisa” (relatos que nunca vem acompanhados de provas em um período de câmeras onipresentes, onde as coisas estão sempre em um passado oculto e circunscritas a grupos herméticos), “se você é um cara muito pensante e vai andar de bicicleta, patins ou coisas assim você tem muita dificuldade” (fazendo relações entre a “fluidez” necessária para aprender a andar nesses veículos e a fluidez de caráter/ da mente). Acho muito perigoso quando caímos em essencialismos ou em crenças infundadas, ainda mais quando isso se relaciona com um campo que lida com a saúde e a educação; mas, talvez digam as pessoas reichianas, isso é só uma defesa do meu caráter – e talvez as mais rasas delas ainda digam que, por isso, não tem que ser levado em consideração.