13 de outubro de 2019 – sexta aula de Técnicas Complementares do Trabalho Reichiano

Nessa aula o Pedro anunciou que ele daria “uma introdução da introdução da craniossacral”, e eu fiquei durante toda a aula pensando o que exatamente seria essa “craniossacral”, à qual ele se referia sempre sem uma palavra que desse “sustentação” a ela. Tomei para mim que a palavra que estava faltando era “massagem”; pesquisando depois em casa, descobri que essa palavra seria “terapia” – mas que, na prática, não se afasta muito de uma massagem. Ele disse que está fazendo um curso dessa técnica e que, vendo interfaces dela com o trabalho corporal de base reichiana, resolver trazer algumas poucas noções nessa aula; disse também que planeja, assim que acabar o curso, estruturar um curso livre no IFP sobre essa técnica.
Ele iniciou a parte teórico-descritivo da aula descrevendo que o que se denomina Sistema Crâniossacral, que compreende da cabeça (crânio) até o cóccix, passando por toda a coluna, e que contém um líquido, o liquor ou liquido cérebro raquidiano. O cérebro possui três camadas de proteção, as meninges: a dura mater, a aracnoide e a pia mater; o liquor também desempenha uma função de proteção mecânica. Em 1970 o médico John Upledger percebeu que o liquor possui também uma movimentação/pulsação, com um ritmo de 6-10 vezes por minuto, chamada de “respiração primaria”. As suturas cranianas, descobriu-se, não são calcificadas, mas juntam-se por materiais flexíveis (como o colágeno) e possuem movimento. O liquor seria produzido no cérebro através de uma filtragem do sangue nas células coroides do cérebro, sendo incolor e funcionando como proteção mecânica e imunológica, participando da regulação da pressão intracrania e atuando no sistema linfático do cérebro; ocupa, em sua maioria, o espaço subaracnoide (entre as meninges aracnóide e pia mater). Dentro dessa descrição, o Pedro falou do conceito de “Still Point”, que segundo ele seria uma parada do pulsar desse ritmo, batizada em homenagem a uma pessoa chamada “Still”; como achei muita coincidência uma pessoa chamada “Still” receber o nome de uma parada (“still” seria, justamente, “parar”, “parada”, em inglês), fui pesquisar um pouco mais sobre isso e não achei nenhuma referência sobre isso, sendo a técnica/fenômeno simplesmente apresentada como uma parada do ritmo de circulação do líquido cérebro raquidiano (como, por exemplo, pode ser visto nesse “guia para iniciantes de terapia craniossacral” http://www.cranialtherapycentre.com/a-beginners-guide-to-craniosacral-therapy/ ou nesse artigo https://www.iahe.com/docs/articles/CSTDementiaArticle.pdf, que explora os efeitos do uso da técnica em pessoa com demência). No artigo citado, descrevem que a modificação do ritmo craniossacral pode ser modificada e melhorada com o uso da técnica e que, “colocado de forma simples, isso pode ser conseguido quando um praticante habilidoso, usando suas mãos, aplica uma resistência suave (não mais que 5 gramas) em uma fase do ritmo craniossacral enquanto a segunda fase se mantém inalterada”; o Pedro descreveu a técnica como uma parada da circulação desse ritmo, provendo uma reorganização do sistema que, após isso, funcionaria melhor (“como se fosse um restart do sistema. A gente não tira da tomada os aparelhos eletrônicos e não entende o porque, conta até 10, bota… é o restart, é mais ou menos isso”) – ainda segundo a descrição do Pedro, essa técnica poderia ser aplicada com pressão em pontos aonde não existe circulação do liquor, como nas coxas, e que como esse pulsar dessa circulação é muito mais lento do que a respiração e do ritmo cardíaco, ele recomenda que o pressionar do ponto, caso não sinta o pulsar do paciente, seja feito por cerca de 10 segundos, garantindo, assim, que a pressão exercida influenciou a circulação do liquor. Na extensa lista de benefícios dessa técnica, o Pedro trouxe: reduz o stress e a ansiedade, melhora o sistema imunológico, restaura o funcionamento do sistema nervoso autônomo, aprimora os movimentos de tecidos e do liquor, relaxa o tecido conjuntivo em todo o corpo, diminui febre, beneficia artrite, conecta crianças autistas, melhora o funcionamento do sistema nervoso central, atua nas articulações tempo mandibular, melhora a depressão, equilibra o sistema endócrino, alívio de dores de cabeça e enxaqueca e alívio de dores e tensões crônicas.

A aula seguiria o esquema das anteriores, com um momento de demonstração da técnica em uma pessoa voluntária e depois o trabalho em duplas a que se segue a roda de impressões. O primeiro momento foi, com a pessoa deitada de barriga para cima, tentar sentir, na base do osso occipital, essa pulsação da circulação do liquor, estando sentado logo atrás da pessoa; segundo o Pedro, esse é um pulsar muito sutil, muito difícil de conseguir sentir – eu mesmo não consegui perceber quando fiz com a minha dupla. Para o primeiro ponto, levantamos a cabeça da pessoa com as duas mãos e pressionamos na base do crânio. O segundo ponto, na face, é com os polegares na articulação da mandíbula e os indicadores na maça do rosto, não lembro exatamente as indicações (e pela gravação de áudio fica complicado pegar as referências) – é um ponto dolorido, pois tanto a pessoa que se voluntariou quanto a que fez comigo indicaram isso, além de eu próprio ter experimentado isso. O terceiro e ao lado do osso hioide, no pescoço, pressionando para baixo. O quarto é no diafragma, na altura do final do externo (aonde começam as costelas), com a mão espalmada em corte horizontal no corpo da pessoa, fazendo pressão para baixo. O quinto ponto é com a mão espalmada em corte vertical no corpo da pessoa, também fazendo pressão para baixo. O sexto é fazer pressão para baixo entre a crista dos ísquios e, por baixo do corpo, achar o ponto equivalente na direção da coluna da pessoa e fazer pressão para cima. O sétimo ponto é fazer pressão para baixo nos dois ísquios da pessoa. O oitavo ponto é no meio das coxas da pessoa, fazendo pressão para baixo, usando o peso do corpo para ajudar na pressão. O nono ponto é na parte interna da coxa, logo acima do joelho, fazendo pressão para fora. O nono ponto é na verdade um alongamento, que é pegar no pé da pessoa, deixar a perna dela o mais reta possível em relação ao eixo do corpo, e puxar para baixo, fazendo uma perna de cada vez. O décimo é segurar na parte externa dos pés e trazê-los para dentro, mantendo os 10 segundos, e soltando de uma vez. Depois desses pontos, voltamos à base do crânio para sentir se houve alguma alteração no ritmo da circulação do liquor na pessoa.

De uma forma geral, todas as pessoas relataram que foi muito bom receber a técnica, promoveu um relaxamento geral visível no ambiente e nas pessoas. Eu primeiro recebei a massagem/técnica, e algumas coisas foram interessantes: eu senti dor no ponto que já citei, no rosto, e também no ponto com a mão entre os ísquios, que pressiona também uma mão nas costas, foi uma dor apenas no lado direito, como se fosse na bexiga ou algo assim; senti uma sensação muito prazerosa quando ela fez um movimento no rosto (que o Pedro não listou na apresentação), com os dedos nas têmporas e pressionando “para dentro”; quando a pessoa fez o ponto no meu peito, eu senti um fluxo descendo como se fosse pelo tubo digestivo, chegando a ouvir um barulho, e a pessoa que fez comigo relatou que sentiu a mesma coisa; foi uma sensação boa também o alongamento da perna, eu gostaria até que tivesse ficado mais tempo.