13 de março de 2020 – quinta aula de Clínica Psicorporal das Psicoses e dos Transtornos Mentais

Essa aula teve um arranjo especial, pois o Henrique estava muito gripado, então ele sugeriu que transferíssemos a aula para um outro momento, pois ele havia pensado uma aula com trabalhos corporais (e estávamos no início do “levar a sério” por parte da sociedade em relação à pandemia de SARS-CoV-2/COVID-19), mas que também poderia seguir normalmente a aula caso a turma assim desejasse. A opção de adiar a aula era ruim para algumas pessoas, que haviam vindo de longe apenas para aquela aula (eu, embora também viesse de longe, não estava bem naquele dia e teria aproveitado bem o adiamento), mas também estava claro que insistir numa aula, qualquer que fosse o modelo, com o Henrique debilitado como estava não seria produtivo para ninguém. Assim, decidimos por fazer uma aula reduzida nesse dia, deixando a ideia do trabalho corporal para o próximo encontro e buscando marcar um encontro final para podermos fazer o fechamento do curso.

Dentro desse modelo, então, o Henrique utilizou o encontrou para trazer dados sobre a biografia de Victor Tausk, um dos primeiros psicanalistas a trabalhar conceitos ligados à psicose na clínica. Dizendo que gostava muito de fofocas, o Henrique começou a falar de Tausk através de Lou Andreas-Salomé, uma autora, narradora, ensaísta e psicanalista que viveu 1861 e 1937; nas “fofocas históricas” Lou Salomé é muito conhecida por ter se relacionado com vários intelectuais importantes no ocidente à sua época, entre eles Friedrich Nietzsche, Sigmund Freud e Victor Tausk. Tausk, um jovem psicanalista, procurou Freud para que este fosse seu analista, mas teve seu pedido negado; segundo o Henrique, o motivo da negativa de Freud era o seu incômodo com a situação envolvendo Lou Salomé. Existem especulações mas não há confirmação de que Freud e Salomé tiveram envolvimento romântico; mas no reino das fofocas, obviamente qualquer coisa pode ser tomada como verdade, principalmente se permitir que se façam afirmações sobre aspectos pessoais da vida de alguém – uma mulher aparentemente segura de sua sexualidade, que mantinha relações abertas apesar de oficialmente casada, ainda mais naquela época, é um alvo perfeito para isso. Segundo o Henrique, embora não tenha aceitado ser analista de Tausk (o que, caso fosse efetivamente verdade que havia um atravessamento de Freud em relação a Tausk por ciúmes, ou algo que o valha, da relação deste com Lou Salomé, seria uma postura acertada), Freud indicou Helene Deutsch para ser analista de Tausk; o problema é que ela era analisada por Freud e além disso era supervisionada em seu trabalho analítico por ele, sendo Tausk seu primeiro paciente, e disse o Henrique que Freud usou essa relação para não só determinar os rumos da análise de Tausk como também para influenciar as decisões que ele deveria tomar em sua vida. Aparentemente esse processo fez muito mal a Tausk, que entrou em uma crise profunda que terminou com seu suicídio em 1919. Como mostra Ronald Clark em seu livro de 1980 Freud: The man and the cause”, o que Freud escreveu a Lou Salomé após o suicídio de Tausk endossa esse tipo de especulação sobre uma amargura de Freud: “Confesso que não sinto falta dele; há muito tempo percebi que ele não poderia ser mais útil; que. na verdade, ele constituía uma ameaça ao futuro”.

Segundo o Henrique, o Pai de Tausk era um “pesquisador cientista e que criou, como médico, a ideia do corpo perfeito”, e esse corpo perfeito poderia ser alcançado através de dispositivos que esticariam, aprumariam e endireitariam o corpo da pessoa; para testar seus dispositivos, utilizou-os em seu filho. Ao ouvir isso, me chamou a atenção a semelhança com a história de Paul Schreber, cuja biografia inclusive foi resgatada em uma aula anterior desse curso por conta da leitura do texto “Notas psicanalíticas sobre um relato autobiográfico de um caso de paranoia”, de Freud; ali, no momento, só achei que fosse uma coincidência, afinal não seria algo tão excepcional assim que médicos inventassem dispositivos para disciplinamento dos corpos, e que os tendo inventado os utilizassem em seus filhos. Cheguei a pontuar na aula isso, dizendo “essa é exatamente a mesma história do Schreber, né?”, ao que o Henrique concordou acrescentando que “não é exatamente, é um pouco diferente”. Ouvindo a gravação em casa, isso novamente me intrigou, e fui pesquisar; inicialmente recorri a dicionários/vocabulários de psicanálise, pois além de serem uma excelente fonte para se iniciar uma pesquisa nessa área, lembrava de já ter visto o nome Tausk em alguns deles. Dos quatro que tenho aqui, apenas um não possuía um verbete sobre Tausk (na verdade, esse vocabulário, diferente dos outros três, não possui biografias), e nenhum deles dava referências sobre seu pai, apenas em um dele havia as limitadas referências “educado por um pai tirânico” e “Obcecado pelo ódio ao pai, adotou para com Freud…”; achei isso muito estranho, pois se realmente o pai fosse um médico que houvesse criado um método de intervenção disciplinar direta sobre o corpo, ainda mais tendo-o utilizado diretamente em Tausk, qualquer biografia deveria iniciar por esse fato; em contraste, o único desse dicionários que possui um verbete sobre Daniel Paul Schreber (e não apenas sobre o livro de Freud) cita logo no início essa relação com o pai. Assim, curioso, fui pesquisar mais sobre a biografia de Viktor Tausk, e inicialmente encontrei muito pouco material; um recurso que costumo utilizar para fazer pequenas pesquisas assim (ou até iniciar pesquisas de maior porte) é visitar a página da Wikipédia (em português e/ou em inglês) sobre o assunto/tópico em questão (ou algo próximo), fazer uma leitura dinâmica do conteúdo dessa página e ir até a parte de “Referências” e “Ligações Externas”, aonde geralmente encontro boas referências para continuar a pesquisar sobre o assunto; eu sou um grande defensor do modelo da Wikipédia, acho que ela é um projeto bem sucedido que mostra como a construção colaborativa do conhecimento de forma aberta pode dar certo (lembro de que quando a plataforma começou a se popularizar no Brasil as pessoas falavam que não era uma fonte confiável, professores até proibiam a citação da Wikipédia como fonte de pesquisa), mas realmente temos que ter em mente também as limitações desse modelo, ainda mais em uma sociedade como a nossa, que não só não valoriza o conhecimento como, pelo contrário, tem valorizado a desinformação e a idiotia. Mas, ao menos, os artigos da Wikipédia servem de uma rápida fonte de materiais mais confiáveis sobre um determinado assunto, justamente consultando a parte de referências.

Na Wikipédia em português não temos uma página sobre Viktor Tausk; na página da Wikipédia em inglês temos uma entrada para Victor Tausk (as duas grafias, com “C” e com “K” são encontradas), mas nas referências existe apenas uma indicação de um site do International Dictionary of Psychoanalysis que não existe mais. Procurei o livro “Brother Animal”, de Paul Roazen, que apresenta a questão entre Freud e Tausk, mas não consegui uma versão disponível na internet; jogando “Viktor Tausk” no www.duckduckgo.com não surgiam muitas referências que pudessem me ajudar, e assim fui navegando e procurando algo que pudesse me confirmar ou refutar definitivamente essa informação sobre o pai de Tausk. Para resumir, encontrei as seguintes informações:

– Em um site de árvores genealógicas achei o pai dele listado como “Journalist Editor” (https://www.geni.com/people/Hermann-Tauszk-Tausk/6000000041342259445);

– Em uma enciclopédia achei-o referido como “Newspaperman” (https://www.encyclopedia.com/psychology/dictionaries-thesauruses-pictures-and-press-releases/tausk-viktor-1879-1919);

– Na página sobre Tausk da Wikipedia germânica encontra-se seu pai definido como “journalist” (https://de.wikipedia.org/wiki/Viktor_Tausk) – para essa e outras páginas em alemão utilizei a plataforma www.tradukka.com;

– No Léxico Biográfico Austríaco do Instituto para Pesquisa Moderna e Contemporânea, Viktor Tausk encontra-se referido como “Sohn des Lehrers und Journalisten Hermann T. und von Emilie Roth” (“filho do professor e jornalista Hermann T. e Emilie Roth”) (http://www.biographien.ac.at/oebl/oebl_T/Tausk_Viktor_1879_1919.xml);

– No site Biografia Germânica mantido pela Bavarian Academy of Sciences seu pai também encontra-se referido como professor e jornalista (https://www.deutsche-biographie.de/sfz130630.html#ndbcontent).

Assim, acredito que é no mínimo relevante questionar essa informação que o Henrique trouxe sobre o pai de Tausk; eu realmente acredito, dada a semelhança, que ouve nas pesquisas que ele fez ou no preparo para a aula alguma confusão com a biografia de Paul Schreber, e que ao menos essa questão da relação com o pai e seus “aparelhos corporais” foi erroneamente associada à biografia de Viktor Tausk. Enviei um e-mail para o Henrique com essas informações, pedindo para que ele me apontasse a referência bibliográfica de onde ele retirou essa informação sobre o pai de Tausk; ele me respondeu que procuraria mas que não poderia me responder no momento, devido às dificuldades recentes com a questão da pandemia de COVID-19 e suas consequências na rotina de todas. Respondi, obviamente, que não havia pressa e que ele me respondesse quando pudesse fazê-lo com calma. Fiquei em dúvida, então, se continuava a construir o relato dessa aula a partir da gravação ou então, como ela foi dedicada à biografia de Tausk, se empreendia eu um pequeno resumo biográfico do autor cotejando diferentes fontes e postava aqui. Embora certamente essa segunda opção tenha óbvias vantagens, fazê-lo não seria exatamente relatar a aula; assim, continuo o relato aconselhando a quem porventura lê-lo que o faça com ainda mais atenção e desconfiança do que o normal, visto que já tivemos (o que considero) um erro de informações ou, no mínimo, uma informação muito contrastante com bibliografias sobre o tema/autor.

Após essa questão com a biografia de Tausk, o Henrique trouxe o ponto na obra desse autor que mais chama a atenção: a máquina de influenciar; esse conceito é desenvolvido por Tausk no artigo “On the Origin of the ‘Influencing Machine’ in Schizophrenia” (“Sobre a Origem da ‘Máquina de Influenciar’ na Esquizofrenia”). Aqui, novamente encontrei um problema, esse talvez muito mais grave; segundo uma leitura rápida e superficial que fiz das primeiras páginas do artigo de Tausk, a interpretação que o Henrique apresentou da “Máquina de Influenciar” está completamente equivocada. Segundo compreendi, a “Influencing Machine” descrita por Tausk é um construto mental de natureza delirante/alucinatória presente nos relatos de pacientes esquizofrênicos, e a intenção de seu artigo é buscar a origem desse elemento comum em quadros de esquizofrenia utilizando o referencial psicanalítico. A descrição do Henrique apresenta a “Máquina de Influenciar” como um conjunto de técnicas e ferramentas utilizadas por Tausk no tratamento de pacientes psicóticos.

Para demonstrar o meu ponto, vou colocar abaixo a transcrição das partes da gravação que fiz dessa aula na qual o Henrique endereçou e descreveu diretamente a tal “Máquina de Influenciar”. Em parágrafos posteriores, copiarei e traduzirei livremente dois parágrafos do texto de Tausk, o primeiro parágrafo da primeira e segunda seções. A ideia é fornecer materialidade para demonstrar melhor em que baseio a minha afirmação.

Transcrição de trechos da aula

Ele cria uma coisa… a Máquina de Influenciar. Ele vai ser um psicanalista que vai desenvolver uma máquina de influenciar o paciente, para o paciente poder responder (dentro desse mundo psicótico) às reações mais primitivas dele, né, e aí sim conseguir uma transformação dentro do processo psicótico dele, né. É como… através dessa Máquina de Influenciar ele conseguisse acessar um lugar que a maior parte dos trabalhos de psicanálise não conseguiam acessar (…) É um aparelho, né, que usa a ciência e tenta usar dessa ciência para construir uma expressão das emoções humanas através desse conhecimento cientifico. Não existe uma mááááquina de, existem ferramentas que dão esse contexto de Máquina de Influenciar (…) Ele apresenta imagens aos doentes; trata-se em geral de uma Lanterna Mágica ou aparelho de cinema, as imagens são vistas em um só plano projetado em paredes ou vidros, não são tridimensionais como as alucinações visuais típicas (…) Ele saca que produzir imagens planas faz com que as pessoas se identifiquem com essas imagens mas não entrem em angústia, não entrem em processo de alucinação ou de delírio – tá claro? Então isso eu achei uma coisa bacana desse processo dele, porque com essas imagens ela influencia o sujeito a buscar dentro dele uma solução para as coisas que ele tem como sofrimento – olha que coisa genial, né, se você for pensar. Logicamente isso aqui pra época, embora tivesse tudo a ver com a modernidade, né, nessa época estava tendo [incompreensível], estava tendo cinemascope, edsonscope e uma série de coisas acontecendo, mas não se usava isso como um projeto científico, mas sim como brincadeiras culturais, brincadeiras, né, pra ganhar dinheiro, tanto que essas imagens eram usadas geralmente em circos (…) Ele pega e coloca isso como projeto clínico; você imagina… imagina só a Sociedade Psicanalítica de Viena (…) Com esse movimento, teoricamente, esse aparelho vai produzir e vai roubar pensamentos e sentimentos graças a essas imagens em movimento, que causa na sujeito, né, sensações físicas, que me dá a sensação de que algo acontece em mim, e aí o analista pode trabalhar com ele em cima de sugestões de atividades frente ao que ele está, digamos assim, vivendo. Então é chamado, inclusive, como aparelho de sugestão – ele sugestiona o paciente ir além do que ele está sentindo. E aí tem uma característica interessante, porque a psicanálise, se você pensar, ela não está voltada para a emoção, né? Se você pegar todos os textos psicanalíticos, você não vê, ali dentro a palavra emoção como um conceito importante dentro da expressão do processo psíquico; o processo psíquico não necessita, né, da emoção para poder existir – ele precisa sim, dos sentimentos, mas não das emoções. As emoções são consideradas neurofisiológicas, e a psicanálise não trabalha com neurofisiologia, quem trabalha é o biólogo e o médico. Aí esse cara chega e fala ‘olha, as emoções são importantes, e eu acho que trabalhando com esse sujeito, sugestionando ele através do que ele está vivendo nessa máquina de influenciar’, né, ‘ele pode ir fundo em coisa que ele normalmente não conseguiria ir dentro do processo analítico’ (…) O aparelho ‘produz ações motoras no corpo do doente – ereções, pulações, ações de expressão corporal’. O que que acontece? Quando ele tem ereções, ele está conseguindo, de alguma maneira, expressar a raiva dele; aí você fala ‘mas a ereção tem a ver com prazer’ – não, ereção não tem a ver com prazer. Ereção tem com a exteriorização, né, da tensão interna que vai ser colocada nas periferias, e uma dessas periferias é o pênis. Então às vezes ele sente ereção, não porque ele está sentindo prazer, ele está sentindo ereção porque ele está tendo um excesso de fluxo nessa direção, está claro? O prazer na ereção leva… é outra coisa, são várias outras possibilidades. Se fosse assim, por exemplo, aquele cara que transa com o pau duro, né, come uma, duas, três ou come a mesma pessoa vinte vezes, ele estaria tendo prazer – ele não está tendo prazer, ele não está na relação; se ele não está na relação essa ereção é só mecânica, ela não tem a potência orgástica. Então quando ele faz isso e expressa esse movimento, ele está fazendo que algo que está contido dentro dele vai pra periferia. Lógico que Tausk não é Reich; ele acredita que ao fazer esses movimentos, de alguma maneira você possibilita o sujeito a ganhar qualidade de organização interna, pra poder responder de forma diferente ao que ele vive como esquizofrenia, isto é, a pobreza corporal. Está claro? Eu acho interessante que ele e Reich, de alguma maneira, se encontram em alguns pontos, entendeu? Lógico que de formas diferentes, com o objetivos diferentes. Logicamente o aparelho produz sensações, mas o doente nem sempre consegue expressá-las – isso se a gente pensar, não precisa de um aparelho pra isso, né, se a gente pensar pra vocês, quantas vezes vocês tiveram sensações corpóreas, né, e vocês acham que é uma coisa e é outra, e às vezes você não consegue nem explicar o que está sentindo, a gente consegue entender que sensação corporal, ela pra ser entendida ela precisa antes de um contorno interno de elaboração. Isso na neurose é mais fácil porque você está dentro de um enquadramento, então quando você tem sensações, essas sensações de alguma maneira foram catalogadas dentro da sua memória, dentro da sua história, porque você tem aceitem em relação (…) é quando o paciente resolve falar para o analista que todo o trabalho que ele está fazendo com essa Máquina de Influenciar é manipulado por um grande inimigo dele que quer o mal dele. Olha o que que tem embutido nessa fala: quem manipula com essa máquina? O analista dele, não é isso? Se ele fala que um inimigo que manipula a Máquina de Influenciar ‘mas não é você não’, ele está falando ‘é você, ô filha da puta’, né? Então tem uma raiva aí implícita pra sair, imensa; eu acho bacana o Tausk chegar (o Tausk é piroca das ideias, né), chega e fala ‘olha, é comigo a coisa – a coisa é comigo, hein’ aí vai trabalhar isso e ele fala ‘isso não tem nada a ver com o processo da Máquina de Influenciar, do projeto que a gente quer’, é na realidade alguma coisa aqui que está errada, aspas ‘transferência negativa’

Tradução do primeiro parágrafo da primeira e segunda seção do texto “On the Origin of the ‘Influencing Machine’ in Schizophrenia” (essa versão já é uma tradução do alemão para o inglês feita por Dorian Feigenbaum 14 anos após a sua publicação).

The following considerations are based upon a single example of the ‘influencing machine’ complained of by a certain type of schizophrenic patient. Although in this particular case the structure of the machine differs materially, to the best of my knowledge, from all other varieties of apparatus of this sort, it is hoped that the present example will nevertheless facilitate psychoanalytic insight into the genesis and purpose of this delusional instrument

The schizophrenic influencing machine is a machine of mystical nature. The patients are able to give only vague hints of its construction. It consists of boxes, cranks, levers, wheels, buttons, wires, batteries, and the like. Patients endeavor to discover the construction of the apparatus by means of their technical knowledge, and it appears that with the progressive popularization of the sciences, all the forces know to technology are utilized to explain the functioning of the apparatus. All the discoveries of mankind, however, are regarded as inadequate to explain the marvelous powers of this machine, by wich the patients feel themselves persecuted

“As considerações a seguir são baseadas em um único exemplo da ‘máquina influenciadora’ da qual se queixa um certo tipo de paciente esquizofrênico. Embora nesse caso particular a estrutura material da máquina seja diferente, até onde sei, de todas as outras variedades de aparelhos desse tipo, espera-se que o presente exemplo, no entanto, facilite a visão psicanalítica da gênese e propósito desse instrumento delirante”

“A máquina influenciadora esquizofrênica é uma máquina de natureza mística. Os pacientes conseguem apenas dar detalhes vagos da sua construção. Ela consiste de caixas, manivelas, alavancas, rodas, botões, fios, baterias e coisas desse tipo. Pacientes se esforçam para descobrir a construção do aparelho por meio de seus conhecimentos técnicos, e parece que com a progressiva popularização das ciências, todas as forças conhecidas pela tecnologia são utilizadas para explicar o funcionamento do aparelho. Todas as descobertas da humanidade, contudo, são consideradas como inadequadas para explicar os poderes maravilhosos dessa máquina, pela qual os pacientes sentem-se eles mesmos perseguidos”

Para mim está evidente, colocadas essas informações lado a lado, que a interpretação oferecida pelo Henrique está realmente equivocada. Agora interessa saber de onde se origina esse equívoco, que pode advir de bibliografia equivocada, de uma leitura superficial, de um preparo de aula inadequado… Claro, pode se também que eu esteja me equivocando em algum ponto de minhas leituras e interpretações. Vou esperar a resposta do Henrique sobre a minha questão em relação à biografia de Tausk (a confusão que acredito ter sido feita entre a infância de Paul Schreber e de Viktor Tausk); ele me fornecendo referência bibliográfica sobre essa questão posso pesquisar um pouco mais, dessa vez nas fontes que ele mesmo usou, para ver se consigo alguma indicação mais aprofundada sobre isso.