Para a segunda aula de Introdução ao Pensamento Reichiano eu cheguei um pouco atrasado e, por isso, não peguei a conversa inicial e nem a apresentação do que seria trabalhado nesse encontro; ao longo da aula ficou evidente para mim que era uma aula sobre o viés político da vida de Reich.

Como sempre teve interesse nas temáticas sociais, Reich vai se aproximando dos psicanalistas ligados à educação, visto que a escola é um dos aparelhos estatais de repressão. Sua aproximação política inicial era com a social-democracia, mas em um evento ocorrido em 1927 em Schattendorf, onde um grupo de monarquistas atira numa pensão que abrigava membros do Partido Socialista, muda seu posicionamento. Esse grupo foi julgado inocente pelo judiciário, que era ligado à democracia cristã, e isso cria uma revolta popular com greves e agitações. Reich, saindo às ruas, observa que os policiais estão sendo chamados aos quartéis e sendo armados, enquanto que a social-democracia manda recolher a guarda popular (sua força paramilitar), não agindo então no massacre que se seguiu; Reich chega a questionar os membros da social-democracia sobre isso, eles apenas respondem “isso não é problema nosso”. No dia seguinte ao massacre Reich se filia ao partido comunista austríaco, pois foi o único que, segundo ele, teve uma atitude coerente e se aliou ao povo na revolta; devido ao seu interesse e prática, Reich se aloca na sessão sanitarista do partido.

É dentro dessa sessão sanitarista do partido comunista austríaco que Reich se junta a outras psicanalistas e funda a Associação Socialista de Consulta e Investigação Sexual, propondo-se a atender trabalhadores, abrindo clínicas de higiene em vários bairros, atuando com atendimentos e informações de forma preventiva, defendia o direito de aborto para mulheres e a divulgação de informações e distribuição de contraceptivos a jovens.

Em 1929 Reich lança o livro “Materialismo Dialético e Psicanálise”, construindo a ideia de que a psicanálise é dialética, e como o livro foi publicado simultaneamente na Alemanha e em Moscou, Reich é convidado a visitar a Rússia.

A partir da leitura de “A Vida Sexual dos Selvagens”, de Bronislaw Malinowski, contesta a ideia de que os conflitos neuróticos são biologicamente dados, escrevendo o livro “A Irrupção da Moral Sexual Repressiva”, publicado em 1932, no qual levanta a tese da determinação social do complexo de Édipo e a fase de latência.

Em 1931 acontece, em Düsseldorf, o primeiro congresso das organizações sexo-políticas, aonde Reich apresenta uma proposta de programa unificado: a livre distribuição de contraceptivos àqueles que não os pudessem obter por outros meios; propaganda maciça do controle de natalidade visando reduzir as necessidades de aborto; abolição da proibição do aborto; disponibilidade de aborto nas clínicas públicas; assistência financeira e médica à gravidez e ao aleitamento materno; abolição da distinção entre casados e não-casados no sentido legal; abolição do conceito de adultério; liberdade de divórcio; eliminação da prostituição pela reeducação, mudanças econômicas e econômico-sexuais para erradicar suas causas (a prostituição só existe por conta da repressão sexual – se a repressão é eliminada, a prostituição perde o sentido); eliminação de doenças venéreas através da completa educação sexual e, acima de tudo, substituindo comportamentos sexuais promíscuos por relações sexuais saudáveis; prevenção de neuroses e problemas sexuais através de uma educação positiva para a vida; estudo de princípios de pedagogia sexual; fundação de clínicas terapêuticas; treinamento de doutores, professores, trabalhadores na área social e todas as questões relevantes sobre higiene sexual; substituição da punição por crime de ordem sexual por tratamentos; prevenção de crimes sexuais através de métodos melhores de divulgação e de eliminação das causas econômicas; a proteção das crianças e adolescentes contra a sedução do adulto.

Embora esse projeto encontre certa resistência na capital (por conta dos problemas entre partidos), é bem recebido no interior. Reich escreve o livro “O Combate Sexual da Juventude”, que fica pronto no verão de 1931 e foi enviado para publicação ao Comitê Central para a Juventude, em Moscou, para ser impresso; mas o comitê enrolou Reich por um ano sem imprimir a obra, então Reich funda a sua própria editora para lançar a obra. Problemas advindos dessa questão culminam com a expulsão de Reich do partido comunista em 1933.

Vai para Viena, aonde não é bem recebido e fica só dois meses, então vai para Copenhague, aonde se refugia do nazismo, toma conhecimento da sua expulsão do partido comunista com as seguintes acusações: escrever um livro antirrevolucionário (Psicologia de Massas do Fascismo) e abrir uma editora sem autorização. É convidado por colegas para lecionar Análise do Caráter, pois havia ficado famoso entre os psicanalistas por conta da sua técnica, que trazia objetividade para um campo que necessitava disso – a Análise do Caráter trazia critérios para fazer a interpretação enquanto a psicanálise só tinha conceitos gerais difíceis de se concretizar no dia-a-dia. O regime nazista apreende e destrói as suas obras e de toda a SexPol.

Se muda para a Suécia, e depois para Oslo, Noruega, aonde conduz experimentos com a eletricidade da pele, buscando uma origem biológica para a teoria da libido de Freud.

Coisas que anotei durante a aula:

– “A transferência não acontece apenas no ambiente terapêutico, a gente transfere o tempo todo”
– “Toda transferência se torna uma resistência”
– “Os objetivos terapêuticos são contrários aos impulsos infantis”
– “A neurose faz com que não tenhamos um contato pleno”
– “Todo histérico tem traços orais”
– “Tópico = lugar (consciente \ inconsciente); dinâmico = com as coisas vão acontecendo, ‘por que construiu essa defesa específica?’, ‘por que não vou chorar? Pois meu pai dizia que homem não chora’”
– “Mesmo a couraça é pulsante”
– Paranóia é uma psicose, é a projeção dos seus medos no externo
– Libido = energia psico-sexual
– Sublimar = descarregar energia de outra forma
– Erros na análise das resistências:
– A interpretação fora da ordem da construção da neurose
– Transferência positiva reativa
– Interpretação na ordem inversa da estruturação do caráter (primeiro defesa depois conteúdo reprimido)
– A importância do “como” para Reich é que vai levá-lo ao trabalho com o corpo
– A União Soviética é a primeira a excluir a homossexualidade [da lista de doenças?] no mundo
– Reich diz que sob Stálin há um fascismo vermelho
– A preocupação de Reich com o social o aproxima dos psicanalistas educadores
– Livro “materialismo dialético e psicanálise” = materialidade é algo além do eminentemente físico
– “A prostituição só existe por conta da repressão sexual”
– Livro “Se Teu Filho Te Pergunta”, escrito por Annie Reich
– Próxima aula = experimentos bioelétricos, orgon, passagem para a vegetoterapia