27 de janeiro de 2019 – terceira aula de Oficina do Corpo IV

O início dessa aula foi muito similar às duas outras: nos dividimos em duplas, uma pessoa deitava no colchonete para fazer o papel de paciente enquanto a outra ficava ao seu lado fazendo o papel de terapeuta (o que depois era revezado); inicialmente, pedia-se ao paciente que respirasse normalmente, como fazia no dia-a-dia, e se observa essa respiração; depois pedimos que o paciente inicie uma respiração profunda, inspirando o máximo possível e soltando o ar o máximo possível; depois pedimos que o paciente faça a respiração em quatro tempos: inspiração profunda; pequena pausa; expiração rápida; pausa até nova vontade de inspirar; depois pedimos que o paciente faça uma vocalização na expiração, deixando que o ar vibre as pregas vocais e produza o som que tiver que produzir, sem muita preocupação com esse som.  Eu fiz dupla nesse dia com uma pessoa que havia entrado no curso naquele dia (como são possíveis até duas faltas, ela entrou bem no limite), e enquanto o professor dava as primeiras instruções, nos perguntamos quem faria qual papel primeiro e eu me ofereci para ser o paciente, tirei a camisa e me deitei no colchonete para iniciarmos; mas então o professor pediu que invertêssemos essa ordem, visto que era a primeira vez daquela pessoa e seria interessante que ela fizesse o papel de paciente primeiro. Assim fizemos e, ao iniciar o exercício, senti uma emoção muito forte vindo dessa pessoa, vi seus olhos muito brilhantes e parecia que estava a ponto de chorar, impressão essa que continuou, de forma leve, durante todo o exercício. Na conversa ao final ela confirmou essa minha impressão, dizendo que era uma expressão de felicidade, pois havia tido uma semana ótima, reencontrou pessoas queridas e fez muitas coisas boas, das quais se afastaria ao final da semana. Foi muito interessante a conexão que ocorreu conosco durante o exercício.

Ao final da conversa o professor pediu que ainda não trocássemos as duplas pois seria feito um novo exercício, o acting do gato. Consistia em quem estava deitado colocar as solas dos pés no chão, fazer a inspiração profunda normalmente e, durante a inspiração, procurar emitir um som similar ao que um gato faz quando se sente ameaçado, mostrando os dentes e crispando as mãos no colchonete; como a inspiração é profunda, geralmente é possível fazer duas expirações deste tipo a cada inspiração. O exercício iniciou normalmente, mas depois de um tempo as pernas da pessoa que estava fazendo comigo começaram a vibrar, primeiro sutilmente (provavelmente o movimento se iniciou antes que tivesse força o suficiente para que percebesse), depois com intensidade grande. Quando terminamos o acting e conversamos sobre a experiência, a vibração continuou, e a pessoa disse que fazendo esse exercício sentiu uma energia quente, que tinha a impressão que se continuássemos por mais algum tempo ela poderia gritar; perguntei se isso era um grito ruim, ela disse que não, que se tratava de um acúmulo e que o grito seria a liberação disso, mas uma liberação prazerosa.

Tendo feito eu o papel de paciente, as coisas correram tranquilas durante o exercício da respiração, tendo reforçado inclusive o sentimento de conexão com a pessoa que fazia comigo. No acting do gato aconteceu uma coisa curiosa: segundo orientações do professor, em relação ao olhar podemos indicar nesse exercícios três coisas ao paciente: que fique de olhos fechados; que encontre um ponto fixo e olhe para ele; que faça contato visual com o terapeuta. Eu geralmente opto por fechar os olhos. Durante o acting do gato eu não sentia nada em relação a agressividade, mas quando fiz contato visual com a pessoa que fazia comigo me pareceu que ao fazer isso olhando para ela eu traria alguma hostilidade para aquela relação e não quis isso, então voltei a fechar os olhos.

Antes de fazermos a rodada de impressões das duplas, o professor ainda nos passou mais um exercício, mas esse feito em roda; segundo ele, na clínica isso deve ser feito com terapeuta e paciente de frente. A pessoa deve buscar sentar-se o mais ereta possível, com os pés bem apoiados no chão; a ideia é que a respiração seja feita com atenção na força de integração (a respiração teria essa característica de unir a parte superior e a parte inferior do corpo, principalmente pelo diafragma estar localizado mais ou menos no meio do corpo). Disso, o terapeuta deve pedir que o paciente siga as seguintes etapas, fazendo-as inclusive para que ele possa ver e entender melhor do que se trata: primeiro, respirar normalmente; em um segundo momento, iniciar uma respiração profunda; terceiro, buscar a respiração em quatro etapas; quarto, buscar uma abertura das narinas na inspiração; quinto, na expiração, imaginar que existe uma “cordinha” puxando a cabeça, jogando-a levemente para trás; sexto, abrir e fechar o peito com o ritmo da respiração.