12 de outubro de 2019 – sexta aula de Vegetoterapia I

A aula iniciou com o Pedro dizendo que ela seria sobre massagem, pois haviam feito esse pedido na aula anterior, e que, pensando, ele chegou à conclusão de que a principal preocupação com massagem no trabalho reichiano é atuar na respiração, então que ele focaria nisso. Apresentando alguns elementos teóricos antes da parte prática da aula, ele disse que o conceito de autorregulação é muito importante, pois para Reich o cerne biológico das pessoas busca sempre “estar bem”, a vida tem como essência a positividade. A partir disso, afirmou que não é o terapeuta que cura a pessoa, mas que o seu trabalho seria acessar essa autorregulação do sujeito para que o seu organismo se cure; a definição que ele trouxe de autorregulação foi “ajustes ininterruptos no fluxo para manter uma condição ótima de adaptação interna, que seria a coordenação das funcionalidades próprias do sujeito, e adaptação externa, trocas e adaptações com o meio circundante (…) é a habilidade do organismo, indivíduo, de manifestar e preservar a vida”. Ele colocou que essa definição lembrava o conceito de pulsão de vida que, embora presente em Freud e em Reich, seria “mais do Reich do que do Freud porque pro Reich só havia a pulsão de vida, a pulsão de morte na verdade é um próprio autodesvio da pulsão de vida”, e que esse era “um processo que acontece em cada uma de nossas células envolvendo uma memória funcional”; embora me interesse saber mais sobre o conceito de memória em Reich (afinal, fala-se de memória de eventos no útero), o Pedro não desenvolveu essa ideia. E então, antes dos primeiros 10 minutos de aula, a física aparece mais uma vez: “hoje em dia na física tem uma grande discussão se a energia é um raio que atinge alguma coisa ou é uma informação ou é as duas coisas, essa é a grande discussão da física”, seguido de uma descrição imprecisa do fenômeno do entrelaçamento quântico (sem nomeá-lo), e a ligação disso com Reich foi feita pelo uso do conceito de energia, que seria para Reich o que faz a diferenciação de um processo fisiológico para o outro – como no exemplo da ereção por excitação sexual e a ereção matinal por conta da urgência de urinar. Cheguei a anotar no meu caderno que, ao menos, o termo “física quântica” não havia aparecido; mas me antecipei na empolgação, pois alguns minutos depois apareceu um “segundo a física quântica”, fazendo um salto lógico entre o “fenômeno da incerteza” (aquele que Schrödinger tentou ironizar com o gato) e “quando a gente observa alguma coisa, enquanto terapeuta, a gente já está interferindo naquele processo”. Dessa vez a comentário foi sucinto, e a ele se seguiu algumas considerações muito pertinentes e interessantes sobre o caráter relacional de alguns aspectos e ferramentas na terapia; aquilo que pode ser acirrante para uma pessoa, pode provocar abrandamento em alguém.

O trabalho prático massagem foi simples, não teve nenhuma técnica específica ou grandes manobras, apenas seguimos um roteiro que o Pedro primeiro demonstrou e depois ia falando conforme fazíamos o exercício, com pontos no pescoço, clavícula, ombros, omoplata, peito, diafragma, abdômen e costelas. Eu particularmente não achei uma aula muito interessante, pois foi por demais genérica tanto do ponto de vista reichiano quanto mesmo de um ponto de vista de massagem. Certamente houve aprendizados, muitas pessoas dormiram durante o trabalho (inclusive a pessoa que fez dupla comigo) e foi uma observação geral o quanto é complicado acompanhar a respiração da pessoa dormindo, mas não me pareceram coisas que precisassem de uma aula de três horas e meia para aparecerem.

Em uma das rodas de impressões sobre a prática aconteceu uma coisa que eu sempre acho interessante quando acontece, que é a pessoa descrever algo de acordo com o que ela acha que é o certo, mas essa descrição não fazer sentido com a explicação/teoria dada sobre a questão; nesse caso, foi uma pessoa que narrou que enquanto observava a respiração da sua dupla antes de intervir no corpo, percebeu que a respiração estava acontecendo no peito e no abdômen simultaneamente e que depois da massagem ficou mais “compartimentada”, com peito e abdômen subindo e descendo separadamente. A questão é que segundo tanto o Pedro quanto o Marcus Vinícius, o objetivo é que justamente a respiração ficar “em bloco”, com o peito, o abdômen e as costelas inflando e desinflando ao mesmo tempo; seja por qual motivo for, essa pessoa acreditou que a respiração em bloco era ruim e a compartimentada era boa, e como acreditou que a intervenção com massagem faria melhorar a respiração, o que viu foi exatamente isso. É o tal “efeito pigmalião”, descito por Rosenthal e Jacobson no livro “O Efeito Pigmalião em Sala de Aula”, também chamado de “profecia auto realizável” e brilhantemente explorado em dois episódios do seriado Chapolim: em um, o protagonista troca propositalmente os prontuários médicos de dois pacientes, um moribundo e o outro saudável, para estimular o moribundo a se animar e com isso aumentar suas chances de melhora – só que o resultado é uma troca dos efeitos, o paciente moribundo efetivamente se torna mais saudável, enquanto o saudável adoece terminalmente; no outro episódio, inspirado no musical “My Fair Lady”, que é uma adaptação da peça “Pigmalião” de Bernard Shaw, uma florista “sem modos” é educada a se tornar uma lady, enquanto o seu educador, antes um homem culto e refinado, torna-se um sem modos ignorante. Certamente, por se tratar de um programa de comédia, o efeito é caricaturado no seriado, mas é justamente nisso que consiste a sua genialidade, pois expõe de forma simples o cerne da questão. Em alguns momentos nessa formação eu observo esse tipo de comportamento, da profecia auto realizável, aonde a pessoa enxerga aquilo que acredita – o que é muito diferente de enxergar aquilo que quer. De uma forma geral, todas as descrições foram nesse sentido de que “as coisas melhoraram”.