06 de abril de 2019 – sexta aula de Análise do Caráter I

Como disse no relato da aula anterior, o professor pediu que estudássemos alguns conceitos em um dicionário de psicanálise, e a última aula do curso foi somente em cima desses conceitos. Por um lado isso foi excelente, realmente acredito que faz sentido termos essa fundamentação na psicanálise para estudar análise do caráter; por outro lado, foi ruim pois não pudemos estudar em sala o capítulo VI do Análise do Caráter. Sempre fico com a impressão de que nas aulas desse professor nós não conseguimos efetivamente obter respostas objetivas às perguntas que fazemos, e devido a vir refletindo sobre isso ao longo das aulas e de ter gravado e ouvido as duas últimas pude me assegurar mais de que isso realmente acontece, não é apenas uma impressão minha. Tenho muito interesse na abordagem da clínica que ele faz, que foca o trabalho apenas na análise do caráter e não utiliza intervenções corporais diretas, ele certamente tem uma experiência e prática clínica consideráveis, mas penso que ainda não se encontrou didaticamente.

Para esse relato, então, vou reproduzir abaixo os verbetes que pesquisei e copiei em meu caderno para essa aula. Não segui exatamente as indicações dele, tendo buscado sempre continuar próximo delas mas percorrendo um caminho que também fosse dando conta de inquietações e dúvidas minhas. Fiz também a pesquisa em dois dicionários de psicanálise distintos, assim na maioria dos verbetes consultados foi possível fazer uma comparação entre abordagens e ter mais informações e pontos para pensar; essa, inclusive, me pareceu uma abordagem muito produtiva para estudar esses temas, talvez até mesmo para um grupo de estudos, e pretendo continuar a fazê-lo, incluindo mais fontes de consulta no processo.

→ Metapsicologia

Roudinesco & Plon: “Termo criado por Sigmund Freud, em 1896, para qualificar o conjunto de sua concepção teórica e distinguí-la da psicologia clássica. A abordagem metapsicológica consiste na elaboração de modelos teóricos que não estão diretamente ligados a uma experiência prática ou a uma observação clínica; ela se define pela consideração simultânea dos pontos de vista dinâmico, tópico e econômico”

Laplanche & Pontalis: “Termo criado por Freud para designar a psicologia por ele fundada, considerada por ele na sua dimensão mais teórica. A metapsicologia elabora um conjunto de modelos conceituais mais ou menos distantes da experiência, tais como a ficção de um aparelho psíquico dividido em instâncias, a teoria das pulsões, o processo do recalque, etc.

A metapsicologia leva em consideração três pontos de vista: dinâmico, tópico e econômico”

→ Aparelho Psíquico

Laplanche & Pontalis: “Expressão que ressalta certas características que a teoria freudiana atribui ao psiquismo: a sua capacidade de transmitir e de transformar uma energia determinada e a sua diferenciação em sistemas ou instâncias”

→ Dinâmico

Laplanche & Pontalis: “Qualificação de um ponto de vista que considera os fenômenos psíquicos como resultantes do conflito e da composição de forças que exercem uma certa pressão, sendo essas forças, em última análise, de origem pulsional”

→ Tópico

Laplanche & Pontalis: “Teoria ou ponto de vista que supõe uma diferenciação do aparelho psíquico em certo número de sistemas dotados de características ou funções diferentes e dispostos numa certa ordem uns em relação aos outros, o que permite considerá-los metaforicamente como lugares psíquicos de que podemos fornecer uma representação figurada espacialmente”

→ Econômico

Laplanche & Pontalis: “Qualifica tudo o que se refere à hipótese de que os processos psíquicos consistem na circulação e repartição de uma energia quantificável (energia pulsional), isto é, suscetível de aumento, de diminuição, de equivalências”

→ Psicanálise

Roudinesco & Plon: “Termo criado por Sigmund Freud, em 1896, para nomear um método particular de psicoterapia (ou tratamento pela fala) proveniente do processo catártico (catarse) de Josef Breuer e pautado na exploração do inconsciente, com a ajuda da associação livre, por parte do paciente, e da interpretação, por parte do psicanalista”

Laplanche & Pontalis: “Disciplina fundada por Freud e na qual podemos, com ele, distinguir três níveis:

a) um método de investigação que consiste essencialmente em evidenciar o significado inconsciente das palavras, das ações, das produções imaginárias (sonhos, fantasias, delírios) de um sujeito. Este método baseia-se principalmente nas associações livres do sujeito, que são a garantia da validade da interpretação. A interpretação psicanalítica pode estender-se a produções humanas para as quais não se dispõe de associações livres.

b) um método psicoterápico baseado nesta investigação e especificado pela interpretação controlada da resistência, da transferência e do desejo. O emprego da psicanálise como sinônimo de tratamento psicanalítico está ligado a este sentido; exemplo: começar uma psicanálise (ou uma análise).

c) um conjunto de teorias psicológicas e psicopatológicas em que são sistematizados os dados introduzidos pelo método psicanalítico de investigação e de tratamento”

→ Inconsciente

Roudinesco & Plon: “Na linguagem corrente, o termo inconsciente é utilizado como adjetivo, para designar o conjunto dos processos mentais que não são conscientemente pensados. Pode também ser empregado como substantivo, com uma conotação pejorativa, para falar de um indivíduo irresponsável ou louco, incapaz de prestar contas de seus atos.

Conceitualmente empregado em língua inglesa pela primeira vez em 1751 (com a significação de inconsciência), pelo jurista escocês Henry Home Kames (1696 – 1782), o termo inconsciente foi depois vulgarizado na Alemanha, no Período Romântico, e definido como um reservatório de imagens mentais e uma fonte de paixões cujo conteúdo escapa à consciência.

Introduzido em língua francesa por volta de 1860 (com a significação de vida inconsciente) pelo escritor suíço Henri Amiel (1821 – 1881), foi incluído no dictionnaire de l’academie française em 1878.

Em psicanálise, o inconsciente é um lugar desconhecido pela consciência: uma “outra cena”. Na primeira tópica elaborada por Sigmund Freud, trata-se de uma instância ou sistema (Ics) constituído por conteúdos recalcados que escapam às outras instâncias, o pré-consciente e o consciente (Pcs – Cs). Na segunda tópica, deixa de ser uma instância, passando a servir para qualificar o isso e, em grande parte, o eu e o supereu”

Laplanche & Pontalis: “a) o adjetivo inconsciente é por vezes usado para exprimir o conjunto dos conteúdos não presentes no campo afetivo da consciência, isto num sentido ‘descritivo e não tópico’, quer dizer, sem se fazer discriminação entre os conteúdos dos sistemas pré-consciente e inconsciente.

b) no sentido ‘tópico’, inconsciente designa um dos sistemas definidos por Freud no quadro da sua primeira teoria do aparelho psíquico. É constituído por conteúdos recalcados dos quais foi recusado o acesso ao sistema pré-consciente-consciente pela ação do recalque (recalque originário e recalque a posteriori).

Podemos resumir do seguinte modo as características essenciais do inconsciente como sistema (ou Ics):

A) os seus ‘conteúdos são ‘representantes’ das pulsões;

B) estes ‘conteúdos’ são regidos pelos mecanismos específicos do processo primário, principalmente a condensação e o deslocamento;

C) fortemente investidos pela energia pulsional, procuram retornar à consciência e à ação (retorno do recalcado); mas só podem ter acesso ao sistema Pcs-Cs nas formações de compromisso, depois de terem sido submetidos às deformações da censura;

D) são, mais especialmente, desejos da infância que conhecem uma fixação no inconsciente

A abreviatura Ics (Ubw do alemão unbewusste) designa o inconsciente sob a sua forma substantiva como sistema; ics (ubw) é a abreviatura do adjetivo inconsciente (unbewusst) enquanto qualifica em sentido estrito os conteúdos do referido sistema.

c) no quadro da segunda tópica freudiana, o termo inconsciente é usado sobretudo na sua forma adjetiva; efetivamente, inconsciente deixa de ser o que é próprio de uma instância especial, visto que qualifica o id e, em parte, o ego e o superego. Mas convém notar:

A) as características atribuídas ao sistema Ics na primeira tópica são de um modo geral atribuídas ao id na segunda;

B) a diferença entre o pré-consciente e o inconsciente, embora já não esteja baseada numa distinção intersistêmica, persiste como distinção intra-sistêmica (o ego e o superego são em parte pré-consciente e em parte inconscientes)”

→ Pulsão

Roudinesco & Plon: “Empregado por Sigmundo Freud a partir de 1905, tornou-se um grande conceito da doutrina psicanalítica. Definido como a carga energética que se encontra na origem da atividade motora do organismo e do funcionamento psíquico inconsciente do homem”

Laplanche & Pontalis: “Processo dinâmico que consiste numa pressão ou força (carga energética, fator de motricidade) que faz o organismo tender para um objetivo. Segundo Freud, uma pulsão tem a sua fonte numa excitação corporal (estado de tensão); o seu objetivo ou meta é suprimir o estado de tensão que reina na fonte pulsional; é no objeto ou graças a ele que a pulsão pode atingir a sua meta”

→ Defesa

Roudinesco & Plon: “Freud designa por esse termo o conjunto das manifestações de proteção do eu contra as agressões internas (de origem pulsional) e externas, suscetíveis de constituir fontes de excitação e, por conseguinte, de serem fatores de desprazer.

As diversas formas de defesa em condições de especificar afecções neuróticas costumam ser agrupadas na expressão ‘mecanismo de defesa’”.

Laplanche & Pontalis: “Conjunto de operações cuja finalidade é reduzir, suprimir qualquer modificação suscetível de por em perigo a integridade e a constância do indivíduo biopsicológico. O ego, na medida em que se constitui como instância que encarna esta constância e que procura mantê-la, pode ser descrito como o que está em jogo nessas operações e o agente delas.

De um modo geral, a defesa incide sobre a excitação interna (pulsão) e, preferencialmente, sobre uma das representações (recordações, fantasias) a que está ligada, sobre uma situação capaz de desencadear essa excitação na medida em que é incompatível com este equilíbrio e, por isso, desagradável para o ego. Os afetos desagradáveis, motivos ou sinais da defesa, podem também ser objeto dela.

O processo defensivo especifica-se em mecanismos de defesa mais ou menos integrados ao ego. Marcada e infiltrada por aquilo sobre o que em última análise ela acaba incidindo – a pulsão –, a defesa toma muitas vezes um aspecto compulsivo e opera, pelo menos parcialmente, de forma inconsciente”.

→ Libido

Roudinesco & Plon: “Termo latino (libido = desejo), inicialmente utilizado por Moriz Benedikt e, mais tarde, pelos fundadores da sexologia, para designar uma energia própria do instinto sexual, ou libido sexualis.

Freud retomou o termo numa acepção inteiramente distinta, para designar a manifestação da pulsão sexual na vida psíquica e, por extensão, a sexualidade humana em geral e a infantil em particular, entendida como causalidade psíquica (neurose), disposição polimorfa (perversão), amor-próprio (narcisismo) e sublimação”.

Laplanche & Pontalis: “Energia postulada por Freud como substrato das transformações da pulsão sexual quanto ao objeto (deslocamento dos investimentos), quanto à meta (sublimação, por exemplo) e quanto à fonte de excitação sexual (diversidade de zonas erógenas)

Em Jung, a noção de libido ampliou-se a ponto de designar ‘a energia psíquica’ em geral, presente em tudo o que é ‘tendência para’, appetitus”