06 de abril de 2019 – sexta aula de Introdução ao Pensamento Reichiano

O conteúdo dessa aula iniciou com uma recapitulação do último encontro, dos estudos de Reich com o potencial elétrico da pele, depois os seus estudos sobre bions (bions PA, Bacilos T e bions SAPA)., e a descoberta “por acidente” do princípio dos acumuladores, que eram caixas com camadas intercaladas de material orgânico (geralmente algodão) com metal; segundo a teoria de Reich, o metal seria um condutor de energia orgone, “puxando” a energia do seu entorno e conduzindo-a, enquanto o material orgânico seria um acumulador dessa mesma energia.

Seus experimentos com os acumuladores lhe levam a concluir que existia um aumento de temperatura no interior das caixas; motivado por esses experimentos inicia uma troca de correspondência com Albert Einstein e em 13 de janeiro de 1941 os dois se encontram. Os experimentos iniciais de Einstein com uma caixa enviada a ele por Reich constataram um aumento de temperatura, mas um de seus assistentes apontou um erro no processo experimental que poderia explicar essa variação de temperatura; Reich lhe escreve uma longa carta contendo relatos de seus procedimentos experimentais, pois estes não continham a mesma possibilidade de erro de execução como aqueles conduzidos por Einstein, mas após um período de silêncio este lhe respondeu que não possuía tempo para se dedicar aos achados de Reich.

Continuando seus experimentos a partir de suas supostas descobertas, Reich foca a sua atenção no estudo do câncer e sua relação com os bions. Segundo as observações de Reich, o câncer era resultado de uma disfuncionalidade geral do organismo, sendo um processo em três etapas: inicialmente, as células do tecido enfraquecido mudam de forma e de textura; a forma pentagonal costumeira das células epiteliais desaparece e as células tendem a encolher e arredondar-se, tornando-se também granuladas (ao invés de translúcidas) e podem ser observados Bacilos T no interior e em sua periferia. No segundo estágio, o tecido granulado se dissemina e infiltra-se nos tecidos vizinhos, provocando o surgimento de uma área inflamatória crônica. No terceiro estágio, diversas células desintegram-se em vesículas e aglutinam-se para formar células em formato cilíndrico e pontiagudas, de rápida multiplicação, que amadurecem formando células de câncer ameboides, de alta mobilidade, e sua proliferação gera o tumor. Reich continua fazendo testes buscando confirmar suas hipóteses, como os testes que fez com sangue, buscando diferenciar características do sangue advindo de um indivíduo saudável daquele advindo de um indivíduo doente – ou, melhor colocado, de indivíduos com maior ou menor grau de disfuncionalidade do organismo. A ideia reichiana de que o câncer é uma biopatia advém desses experimentos e teorias, pois o câncer seria um processo de enfraquecimento e perda de coesão do organismo, um distúrbio crônico do pulsar da vida. Para Reich, então, o câncer seria um processo da vida, porém disfuncional. Para Reich, outra questão presente e observável em pacientes que obtinham melhoras no quadro de câncer era um medo caracterológico da expansão, podendo ser feito um paralelo com o final do processo terapêutico e a angústia do prazer, que seria um processo geralmente presente no final da terapia, onde o paciente, tendo uma melhora significativa, não está preparado para essa nova qualidade de vida, se angustia com essa potência recém-descoberta – é um “medo” dessa potência recém-descoberta.

Em um “segundo momento” da aula o professor dedicou a explicar mais detalhes e trazer exemplos dos experimentos de Reich com os acumuladores. O princípio de funcionamento postulado por Reich advém das características que ele atribui aos materiais em relação à energia orgônica: os materiais orgânicos a acumulam e os metais atraem e expelem essa energia. Assim, um acumulador é uma caixa feita externamente de madeira, com camadas que se alternam entre algum material orgânico (geralmente algodão) e metal, sendo que a última camada, interna, sempre é de metal; assim, teríamos que a camada mais externa irá acumular a energia orgone, que será “conduzida” pela próxima camada, de metal, para a seguinte, orgânica, e assim o ciclo se repete até o interior da caixa que, tendo sua última camada de metal, ficaria cheio de energia por conta de fluxo do externo em direção ao interno. Segundo o professor, não é bom utilizar acumuladores quando o clima está “aquele abafado pré-chuva”, pois isso significaria que há muita DOR (lê-se dór), a energia orgone ruim/mortal, no ambiente; após a chuva, como a água seria um condutor de orgone, o ambiente estaria “limpo” e voltaria a ser indicada a utilização dos acumuladores. Por esse mesmo motivo da água ser um condutor de orgone é que se deve evitar o contato dos acumuladores com água, pois isso poderia os “descarregar”; para acumuladores que fiquem em ambiente externo e não coberto, o ideal seria impermeabilizá-los com algum material orgânico, como cera natural ou óleo vegetal. No Instituto Orgonon relata-se que existiam acumuladores com 20 camadas intercaladas, o que seria um número grande e possibilitaria um grande acúmulo de energia no interior desses acumuladores, potencializando os efeitos e permitindo a condução dos experimentos que Reich fazia com maior fator de observação de resultados.

Na volta do intervalo o professor falou do experimento de Uranur, que objetivava descobrir se a aplicação dos princípios dos acumuladores e o uso da energia orgônica poderiam agir como agente terapêutico no tratamento de doenças da radiação atômica. Em dezembro de 1950 ele escreve para a comissão de energia atômica dos Estados Unidos para obter material radioativo e fazer pesquisas com ele. Em janeiro de 1951 Reich recebeu 2mg do elemento Rádio, separados em dois recipientes de 1cm³; cuidados foram tomados com esse experimento, como manipulação sempre com pinças e uso de roupa protetora de todas as pessoas diretamente envolvidas no experimento. Um dos recipientes foi afastado do laboratório e utilizado como controle, enquanto outro foi colocado dentro de um acumulador de uma camada e este colocado dentro de um acumulador de vinte camadas, durante uma hora por dia pelo período de uma semana. Segundo constam os registros, todo o projeto teve que ser abandonado, pois houve um reação de potencialização da emissão de radiação, dobrando a contagem de fundo de radiação no ambiente; comparações com o recipiente controle indicavam que realmente o elemento usado no experimento havia sofrido alguma magnificação no seu potencial radioativo. Todos os trabalhadores do laboratório sofreram sintomas corporais: dores de cabeça, náusea, fraqueza, perda do equilíbrio, falta de apetite, manchas na pele, alterações na pressão sanguínea e conjuntivite. O laboratório teve que ser evacuado, os acumuladores desmontados e o revestimento da sala retirado. Muitas pessoas se afastaram de Reich a partir desse evento, sua esposa à época chega a relatar alterações no comportamento do mesmo após os eventos ocorridos no experimento de Uranur.

Depois disso inicia o processo de perseguição ao trabalho de Reich nos Estados Unidos, com a publicação de artigos em revistas e a investigação do FDA sobre os acumuladores. Independente da fundamentação ou não do trabalho de Reich em relação aos acumuladores e à existência da energia orgone, é fato que todo esse processo é cheio de problemas, acusações não fundamentadas e claro clima de perseguição ao trabalho de Reich – no desenrolar de todo esse processo houve inclusive destruição física de seus livros. Reich negou-se a se explicar a um corpo de juristas, afirmando que ele, enquanto cientista, somente prestaria contas a outros cientistas. Desse processo decorreu a prisão de Reich, pois continuou o trabalho e venda de acumuladores apesar da proibição por parte do governo.

É nessa época que Reich produz dois pontos muito importantes em sua obra: o conceito de peste emocional e a obra “Escuta Zé Ninguém”. Diz-se também que durante esse período final de sua vida Reich, antes comunista, desenvolveu um anticomunismo ferrenho, chegando inclusive a supor que a perseguição que sofria nos Estados Unidos era orquestrada por comunistas.