31 de março de 2019 – quinta aula de Oficina do Corpo IV

Essa foi a primeira vez na oficina que não fizemos um trabalho diretamente focado na respiração. No início do encontro o professor fez uma pequena explicação sobre o exercício que iríamos fazer, e achei isso muito importante, inclusive havia pedido isso no final do encontro passado, pois sempre fazíamos o exercício, compartilhávamos as impressões em roda mas não era exatamente nos explicado o objetivo daquele acting no trabalho psicoterapêutico.

Nessa aula iniciamos com o acting do gato, que já havíamos feito há dois encontros atrás; na sua explanação inicial o professor disse que esse acting é usado para trabalhar a raiva e, assim como os exercícios de respiração, pode ser utilizado no trabalho com o segmento diafragmático ou abdominal, alterando o foco que se pede ao paciente na expiração, se pela boca ou pelo nariz.

Iniciamos sem o crescente através da respiração como fizemos da outra vez, entrando diretamente no acting, que consiste em inspirar normalmente e, na expiração, provocar um ruído semelhante a um gato quando se sente ameaçado (o que seria equivalente a um rosnado do cachorro), crispando as mãos e buscando bastante intensidade nesse movimento. Nesse dia me veio mesmo um sentimento de destruição, sem uma imagem ou objeto, apenas um desejo forte de destruir alguma coisa – tanto que em um momento do exercício eu pedi uma almofada para a pessoa que fazia comigo pois eu estava danificando o colchonete no qual estava deitado, então preferi ter as mãos numa almofada para não precisar conter qualquer intensidade que viesse do exercício. Em um momento foi pedido que os pacientes continuassem o exercício mas com os olhos abertos e olhando para o terapeuta, e isso inicialmente é algo complicado, pois você direciona uma agressividade para alguém pelo qual não nutre esse sentimento; ao menos ali no exercício com as pessoas da turma isso não existia em mim, mas percebo justamente por isso como essa pode ser uma ferramenta terapêutica importante, podendo ser usada, por exemplo, no caso de uma transferência negativa latente ou uma transferência positiva reativa, onde o paciente possui um sentimento de ódio pelo terapeuta com o qual ainda não está plenamente em contato – fazer esse acting numa situação dessas pode favorecer esse contato e contribuir decisivamente para o progresso do processo terapêutico. A pessoa que fez o exercício comigo relatou, inclusive, que sentiu mais dificuldade em estar na posição de terapeuta do que na posição de paciente nesse momento da troca de olhares. Uma coisa que me incomodou nesse exercício foi que trouxe a impressão de que se demonstrava muita agressividade para algo que, além de não ter um motivo, não iria se concretizar – era como um animal mostrando os dentes para um outro que continua impassível, pois os dois sabem que nada acontecerá para além disso, dessa demonstração patética de uma agressividade que, por não se concretizar, não pode ser agressividade. Penso que um trabalho semelhante feito em grupo teria mais impacto, pois haveria uma troca de intensidades e isso provocaria modulações dessas intensidades, como no exercício “emoções abstratas” proposto por Augusto Boal e que inclusive já utilizei em oficinas de percepção corporal.

Depois desse momento nós fizemos o exercício de reflexo do vômito, que segundo Reich produz o movimento serpenteante característico dos reflexos orgásticos. Consiste em forçar o movimento do vômito, colocando a língua pra fora, buscando com o som estimular essas contrações e projetando a cabeça pra trás. O professor deixou muito claro que o objetivo não é produzir o vômito, mas que isso pode acontecer; ali, se sentíssemos essa possibilidade, era para diminuirmos o ritmo do exercício e evitarmos efetivamente vomitar, mas no trabalho clínico deveríamos colocar um balde na frente do paciente e dizer que, embora o objetivo não seja o vomitar, se isso acontecesse era pra deixar vir. A ideia desse acting é trabalhar emoções profundas, viscerais, “aquilo que você não consegue vomitar; aquilo que não foi bem processado e está apodrecendo dentro de você”, e o professor salientou que, justamente por isso, deve ser usado com cuidado e análise fundamentada dentro do processo terapêutico. Colocamos folhas de papel toalha no nossa frente pois embora a ideia não fosse efetivamente vomitar, o professor disse que haveria muita “gosma branca” e que deveríamos cuspir. A minha experiência com esse exercício foi uma coisa mais no corpo mesmo, não me vieram conexões nem qualquer coisa desse tipo; como eu estava com a garganta inflamada e com tosse, essas coisas se misturavam e por vezes eu tinha um acesso de tosse, e para o final do exercício eu fiquei com uma dor na lateral direita do corpo – meus conhecimentos de anatomia são insuficientes pra apontar alguma órgão específico, mas eu suspeito que tenha sido em algum desses órgãos que circundam o estômago, dada a altura e região.