01 de dezembro de 2018 – segunda aula de Análise do Caráter I

As aulas de Análise do Caráter I, com esse professor, parecem que sempre seguirão o roteiro de leitura e comentários. Por um lado, isso é importante, pois nos coloca o tempo todo o texto como referência e evita que “fugas” muito grandes ocorram; por outro lado é um tanto de desperdício de tempo, pois supondo que as pessoas leram o conteúdo em casa (o que é pedido), ficar fazendo uma nova leitura parece apenas dobrar esse esforço e não introduzir algo novo. Certamente a leitura coletiva contando com a presença do professor, que conhece bem a obra e trabalha com Análise do Caráter, é fundamental, não é o mesmo que ler sozinho mas, não sei, sinto que uma metodologia melhor poderia ser procurada. Na segunda metade dessa aula cheguei a propor que trabalhássemos em cima das dúvidas e anotações das pessoas, mas como só eu havia feito anotações o modelo não funcionou bem. Nessa aula nós trabalhamos os dois primeiros capítulos do livro.

O capítulo I, Alguns Problemas da Técnica Psicanalítica, inicia com uma discussão sobre como deduzir da teoria psicanalítica de doenças psíquicas uma técnica de análise, e nisso Reich apresenta e insiste na ideia de que não há e não é possível haver uma técnica que seja universalmente válida para todos os casos – existem certamente rudimentos, conceitos básicos gerais que são compartilhados por todos os analistas, mas não uma técnica aplicável a todos os casos. Por isso, Reich marca a importância de que a técnica para um caso surja do desenvolvimento do próprio caso, analisando seus detalhes. A razão disso é uma das discordâncias mais fundamentais entre Reich e Freud: na técnica freudiana deve-se atuar com a ideia da livre associação, ou seja, deixar que o paciente faça associações livremente, e cabe ao analista interpretar os conteúdos do inconsciente assim que eles apareçam; para Reich, a interpretação não deve ser feita dessa forma, mas sim deve o analista primeiro se esforçar em dissolver as resistências do paciente, caso contrário estas impedirão que qualquer interpretação feita pelo analista, por mais acertada que esteja, tenha algum efeito. Nas palavras de Reich, “Tornar consciente o inconsciente não deve ser feito diretamente e, sim, pela quebra das resistências. Isso significa que o paciente precisa primeiro perceber que está resistindo, depois como o faz e finalmente contra o quê”.

No segundo capítulo, O Ponto de Vista Econômico na teoria da terapia analítica, Reich vai buscar explicar a necessidade do ponto de vista econômico para uma real compreensão dos problemas enfrentados pela psicanálise a partir da observação de que não bastava que o conteúdo inconsciente se tornasse consciente para que uma cura fosse realizada. Assim, Reich afirma que de acordo com o ponto de vista tópico o problema não se resolvia, ou seja, não bastava mudar o conteúdo de lugar (consciente / inconsciente) para a resolução do problema; do ponto de vista dinâmico, que teria que ver com as forças, poderia até se conseguir uma solução temporária para um problema como, por exemplo, em uma reação emocional forte de um afeto relacionado com um conteúdo inconsciente; somente com a mobilização das energias, o ponto de vista econômico, é que, segundo Reich, poderia se almejar uma verdadeira cura. Essa divisão em tópico, dinâmico e econômico advém do conceito de metapsicologia de Freud. A partir dessa colocação da importância do ponto de vista econômico Reich vai trazer elementos e fazer ligações com a teoria da libido de Freud. Nesse capítulo ele define o que seria a impotência orgástica (“incapacidade de atingir uma solução para a tensão sexual que satisfaça as exigências da libido”), o que nos dá também a definição de potência orgástica, um importante conceito para a sua obra, e vai mostrando no final do capítulo como a satisfação genital é fundamental para a sua teoria.

Coisas que anotei durante a aula:

– “O livro ‘Análise do Caráter’ condensa o trajeto do pensamento de Reich

– “O analista reichiano é um operário, no sentido de que trabalha com o corpo como uma antena para captar as questões do outro”

– Transferência é a atualização de elementos vivenciados no passado

– Catexia = concentrações de energia em determinadas partes do corpo

– Até os 4 anos é que vai se estabelecer o conflito edipiano. Até essa idade o desejo é senhor das ações da pessoa, não há o sentimento de culpa, a criança é amoral

– Estrutura de personalidade = estrutura libidinal

– Conceito de sublimação = só existe cultura porque existe repressão. Na medida em que não haveria satisfação direta da libido, essa energia “empurra” o corpo a fazer trabalho

– Formação reativa = desenvolvimento de determinada característica para manter um impulso em recalque

– “Aspirações superiores” = cultura e civilização

– Ab-reação = descarga através de uma emoção \ reação emocional